segunda-feira, 5 de setembro de 2011

REFLEXÕES NO CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER.


 REFLEXÕES NO CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER.
Pergunta 1: Qual é o fim supremo e principal do homem?
Resposta: O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente.
Introdução: Quando olho para esta questão do catecismo fico boquiaberto com tamanha simplicidade da resposta, e com a profundidade teológica expressa nestas palavras.
Esta questão é basilar até mesmo em igrejas que não são confessionais, mas que tentam levar o evangelho de forma séria. Muitos teólogos concordam com esta declaração do nosso catecismo, isto devido ao fato de que o que se enuncia aqui é um princípio imperecível.
Para que fomos criados? Essa é a real questão do homem. Muitos homens e mulheres nunca se pegam pesando nisso, na verdade não ponderam sobre este assunto. Qual o propósito de nossa existência?
Algumas respostas foram sugeridas ao longo dos séculos. Alguns dizem que o propósito de nossa existência está no viver para alcançamos a perfeição por meio de diversas re-encarnações – esta é a proposta do espiritismo conforme conhecemos; outros dizem que estamos aqui para vivermos conforme o destino nos traçou – esta é a proposta do determinismo fatalista; e ainda, há os que dizem que a nossa vida não tem propósito porque ela finda na sepultura – o que chamamos de materialismo. Todas elas são interessantes, mas não suprem as necessidades da alma humana.
Outro fato que nos chama a atenção é que o nosso catecismo não pergunta de onde viemos? As perguntas sugeridas pela filosofia e biologia não têm razão para o nosso catecismo. Mas a questão é para que viemos à existência? A resposta oferecida pelo catecismo é simples – A glória de Deus é a razão de nossa existência, ou seja, fomos criados para sua glória. Isso sumariza tudo que somos e porque somos. Mas para o nosso propósito nesta aula vamos tentar trabalhar os conceitos que estão inseridos nesta primeira questão de nosso catecismo.
I – A REALIDADE DO PROPÓSITO.
Tudo o que fazemos na esfera humana tem um objetivo. Nada o que fazemos é desprovido de propósito ou objetivo. Não é diferente com Deus. Desde a história da redenção Deus faz as coisas com um objetivo. Basta olharmos para a criação. Ele cria os luminares para governar. O sol o dia; a lua a noite – tudo Deus fez com propósitos definidos(Gn.1.14-18);ao trazer a mulher à existência Deus tinha como propósito afugentar a solidão do homem (Gn.2.18).
O homem não está no teatro de Deus – na história – com algo sem algum propósito, mas, está para Ter um propósito singular; por que dizemos isso? É o fato singular de o homem ser a única criatura no mundo a carregar a Imago Dei (Imagem de Deus) conforme diz Gênesis 2.26-27. Isso sempre me deixou pensativo. Ora se fomos criados à imagem de Deus, então, temos algum propósito neste mundo. A realidade do propósito é inegável. Este é assunto que não temos como fugir algo dentro de nós sussurra baixinho dizendo: “Você foi criado para realizar algo”. E vezes por vezes fugimos dessa voz – que é a ação sobrenatural do Espírito Santo – procuramos viver a nossa vida longe desse propósito. Uma vida que não tem objetivo deve ser chamada de vida??? Penso que não. É aqui que erramos, sabemos que temos um objetivo e fugimos dele – somos como Jonas – e sempre tentamos enganar a providência divina dizendo que ela não existe, ou mesmo, que Deus não está lá. Fazemos o mundo tornar-se amoral para que a idéia de propósito seja irrelevante para nós, se há moralidade, então, deve haver algum propósito para assim ser. Não posso negar isso. O nosso catecismo deixa claro que o homem foi criado com um propósito.
II – CARACTERÍSTICAS DESTE PROPÓSITO.
O nosso catecismo sugere que este propósito tem duas características fundamentais, ou que pelo menos, deve ser visto desta forma. Isso é deveras importante, pois, tais características mostram a singularidade deste propósito.
1. É um propósito Supremo: Isso é muito importante para cada um de nós. Se considerarmos apropriadamente este assunto iremos Ter um grande beneficio disso.
O que significa a palavra supremo? Esta palavra nós sempre usamos em nossos sermonários, mas quando olhamos para esta pergunta do catecismo temos medo até de pronunciá-la:
S – U – P – R – E – M – O , realmente é uma palavra que assusta. Todavia, é uma palavra que significa: “Superior a tudo em seu gênero” penso que esta definição cabe muito bem neste assunto, pois, estamos falando, não da supremacia de Deus, mas, em um certo sentido, da supremacia do homem. Há vários propósitos nos quais podemos viver – um casamento, um emprego, um bom ministério, bons filhos, riquezas etc... Mas eles não devem ser supremos. Pois só existe um que é supremo. Este é o único momento em que o homem de fato é supremo! Não mais do que isto. Todos os demais são secundários, mas esse deve de fato Ter a supremacia – reinar sobre os demais – Deus conferiu isso ao homem – querendo ou não homem deve fazê-lo como deve ser, caso contrário sofrerá as conseqüências. Esta característica está baseada no fato de que homem foi criado como vice-regente da criação (Gn.1.27-30). Então, o propósito do homem neste mundo deve ser supremo – o para que ele foi criado deve ocupar o lugar de soberania. Este propósito não pode ser destronado e nem corrompido este é o ponto.
2. É um Propósito principal: Prioridade. Esta é a palavra! O catecismo diz que “o fim (propósito) supremo e principal” – ele deve ser não só um propósito supremo, mas deve também ser sempre o primeiro e nunca o último! Nós sempre invertemos. Sempre pegamos o primeiro e colocamos por último, alguém dirá, mas isso é normal, isso é humano – não! Isso não é natural e nem humano é uma conseqüência da queda! Deus exige de nós prioridades e o propósito para qual Ele nos criou exige isso de nós. Se não pode ser o primeiro é melhor que não seja o último! Poderemos ter o propósito de passar no vestibular, em um concurso para melhorarmos de vida, mas isso é secundário – precisamos do principal. Precisamos da prioridade singular. Sem essa concepção sempre viveremos fazendo distinções indevidas e assim estaremos fugindo do real propósito para o qual fomos de fato criados.
III – A NATUREZA DO PROPÓSITO.
Até o presente momento temos discutido a questão da realidade e características do propósito. Mas qual é a natureza desse propósito? No que ele de fato consiste? O nosso catecismo diz: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente”.
O propósito consiste em o homem “glorificar a Deus”, esta expressão hoje também me assusta, pois, em nossa época se tem praticado muita coisa no âmbito de culto com a desculpa de que tal coisa no culto tem como finalidade glorificar a Deus, por outro, lado se tem tirado do púlpito o autêntico ensino sobre este assunto.
Alguns crentes têm perguntado: Como eu glorifico a Deus? Penso que a pergunta é proveitosa, mas não abarca toda a questão sobre este assunto. A real pergunta seria: “Quando eu glorifico a Deus?”, ou ainda “onde eu glorifico a Deus?” Todas elas parecem perguntas bem parecidas, mas não são. Pois, todas focalizam um ponto da questão, mas penso que as duas últimas sumarizam todo o ensino sobre isso. Penso que muito já se foi dito sobre “Como eu glorifico a Deus?” E por isso, não me demorarei em responder esta questão. Mas gostaria de começar analisando a natureza do propósito com uma questão: “Onde eu glorifico a Deus?”
Alguns de vocês poderão dizer que na igreja. Esta é uma boa resposta. Mas você foi criado para glorificar a Deus apenas na igreja? E os outros lugares? Na escola, na faculdade, no trabalho o que você faz lá. Deixe-me tentar ajudá-lo nesta questão. Na escola você vive para fazer amigos para estudar e ser algum candidato ou candidata para uma universidade de renome, então, quando chega ao Domingo você está pronto para glorificar a Deus na igreja.
Na igreja você deve orar a Deus, mas não em casa, isso porque na igreja você de fato glorifica a Deus! Essa visão é muito linda, romântica, mas está inevitavelmente errada! Na verdade isso é um perigo porque você está de alguma forma corrompendo o propósito para qual você foi criado. Sua vida note o que estou dizendo, sua vida essa única vida que tens foi trazida à existência para glorificar a Deus.
Isso nos leva a Segunda pergunta: “Quando glorificamos a Deus?” Você pode não gostar da resposta, mas você glorifica a Deus exatamente onde acha que não o faz. Quando estuda para fazer a melhor prova, quando namora, quando faz amor com sua esposa, quando almoça, quando toma água, quando toma vinho ou mesmo cerveja, quando faz amizades sinceras, quando dar um beijo de boa noite no seu filho, quando pede a benção do pai e da mãe, quando diz a verdade, quando trabalha, quando diz não! Àquela secretária que não é a sua esposa, quando escuta uma música seja ela “evangélica” ou “não”, quando vai ao teatro, ao cinema, ao shopping, à praia.
Talvez você esteja com uma enorme interrogação no rosto. Como isso é possível? Eu sempre aprendi que os crentes devem ouvir somente músicas de crentes, pois, elas glorificam a Deus! Ou mesmo, estejas dizendo consigo mesmo não concordo com isso! Bem, se você olhasse um pouco na história da igreja iria descobrir fatos interessantes. E saberia que a distinção entre o sagrado e profano, entre natureza e graça é uma doutrina católica romana, e infelizmente o evangelicalismo moderno assumiu essa leitura e quer que cada crente seja obrigado a aceitá-la. Na concepção da reforma não existe esta distinção. Tudo glorifica a Deus. 1 Coríntios 10.31 declara que exatamente isso. O seu trabalho, o seu estudo, a sua vida marital, os seus relacionamentos tudo é para a glória de Deus, e deve ser feito pensando neste objetivo.
Sabe onde está o problema? Está no fato de que nós corrompemos o propósito para o qual fomos criados. Olhe os homens do mundo, quem deu a eles a capacidade para produzir uma boa música – não me venha dizer que foi o diabo – pois não existe nenhuma evidência bíblica para isso – a resposta é que apenas Deus concede dons para os homens! O problema é que os homens corrompem estes dons e conseqüentemente o propósito – é notório, pois que quando existe na musicalidade moderna apologia ao sexo livre, à imoralidade, apologia ao homossexualismo isso não torna a música (de forma geral) pecaminosa, mas me diz o que o pecado fez com a raça humana! Me diz que o homem corrompeu o propósito para o qual foi criado – aquela música não está glorificando a Deus ( não falo no sentido de falar sobre Deus, mas no sentido de que o criador não tem prazer nela, isso porque ela contradiz todos os preceitos da Lei de Deus ), mas está destruindo o objetivo para qual foi criada! E este tipo de música deve ser rejeitada.
Não posso aceitar a separação entre natureza e graça que a igreja abraçou, e, ainda não posso aceitar a idéia de que nós como igreja fiel deva ceder a esta concepção, isto porque ela não é bíblica e não tem apoio na história da reforma. Essa doutrina é tipicamente católica romana. Surpreende-me o fato de que muitos presbiterianos, por não conhecer a história da igreja e nem a doutrina da graça comum e especial, abraçam sem questionamento a distinção entre natureza e graça.
Então, sumarizando esse aspecto da resposta do nosso catecismo podemos dizer que glorificamos a Deus em todos os âmbitos de nossa vida, e não há necessidade de negociarmos a Lei de Deus quando temos esta concepção. Não pulo a catraca de um ônibus não somente porque é um pecado contra o oitavo mandamento, mas porque fazê-lo não glorifica a Deus em primeiro lugar e este deve ser o objetivo soberano de minha vida!
IV – A MANEIRA DE VIVER O PROPÓSITO.
Diante do que já expomos surge uma nova pergunta: de que maneira devemos viver este propósito? O catecismo nos responde dizendo que devemos “gozar a Deus plena e eternamente”. O que isto significa? Significa que a maneira como devemos viver o propósito para qual fomos criados, que é glorificar a Deus, é nos deleitando em Deus. Ter prazer nele!
Isto significa que Quando estivermos estudando, trabalhando e curtindo a vida da forma mais agradável possível possamos nos derramar em Deus. Gozá-lo tem esta conotação aqui na questão do nosso catecismo. Encontrar em Deus o deleite para nossa alma.
A maneira de viver este propósito de glorificar a Deus é tendo segurança em Deus: confiança nele somente. Descansar nele nos momentos de crises, e confiar nele quando tudo pode não ter solução isto de fato glorifica a Deus. Isso significa gozá-lo. Desfrutar de comunhão com Ele é profundamente singular ao nosso propósito de glorificá-lo. Essa concepção nos garante segurança de vida eterna. E, nos lembra que não fomos feitos para morrer distantes dele.
Qual é a profundidade desse deleitar-se em Deus? O catecismo diz que deve ser de forma plena – deve ser algo sem medida – toda a plenitude. Gozar a Deus de forma plena. Nesta vida aqui vivemos para glorificar a Deus quando a fé exige mais de nós! A plenitude disso se revela na comunhão que temos com ele. E esta comunhão reflete o nosso relacionamento com Cristo (Jo.17.22-24). Gozar a Deus de forma plena envolve uma vida cheia de paz com Deus (Rom.5.1) e o reconhecimento que a Glória é dele e que tudo foi criado para ele desde toda a eternidade (Rm.11.36)
Qual é o tempo? Até quando deve durar esse deleitar-se em Deus? A Resposta do nosso catecismo é: “Eternamente”. Isto nos fala que essa comunhão com Deus, e este deleitar-se com Deus rompe as esferas físicas e emocionais; ela dura por toda a eternidade, e tal concepção, só nos traz paz ao coração e profunda segurança em Deus. Pois ele nos recebe na glória e, ainda, é a nossa única herança (Sl.73.24-26).
Conclusão: Precisamos resgatar a nossa visão do propósito para o qual fomos de fato criados. A glória de Deus! Você está aqui porque Deus quer que a sua vida o glorifique. Não adianta correr desse propósito.
E o que você tem feito com os dons que Deus te deu tens usado para de forma correta glorificai-lo ou tens corrompido o seu propósito. Você tem vivido para glorificar a Deus? Tens prazer em Deus, e assim, o tens glorificado? Ou será que já fostes influenciado e iludido por aquela visão de que a tua vida não tem significado algum?
Gostaria de deixar algumas aplicações sobre este assunto.
1. Entenda que glorificar a Deus é objetivo soberano de sua existência.
2. Nunca deixe que outras coisas assumam a prioridade no objetivo para qual fostes criado.
3. Rejeite a distinção entre natureza e graça. Pois ela não tem base na Bíblia e assuma que tudo que você faz glorifica Deus
4. Nunca deixe de deleitar-se em Deus mesmo em situações que não lhe pareçam favoráveis.
Por : João Ricardo Ferreira de França

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