Efésios capitulo 2. 11-22.
“Alienação” é uma palavra popular em uma cultura contemporânea. Paulo emprega a palavra com relação às duas condições “desafeiçoar”, “excluir” ou “alienar” que no verbo grego é apallotrioo. No Novo Testamento ocorre somente em Efésios 4.18 e 21 e em Colossenses 1.20-21. “Alheios à vida de Deus”
A substituição da “Aliança” pela Reconciliação:
É o tema de Efésios 2. Na primeira metade do capitulo (Vs. 1-10) os seres humanos são retratados como estando alienados de Deus quando Paulo diz que: “estais mortos nos...delitos e pecados” e “por natureza filhos da ira” (Vs. 1-3). Na segunda metade (Vs. 11-22), os seres humanos são retratados como estando alienados uns dos outros. “o judeu tinha desprezo imenso, pelo gentil. Os gentios diziam que os judeus foram criados por Deus para serem combustível para o fogo do inferno. Deus, diziam eles, ama somente a Israel dentre as nações que fez... Não era nem sequer licito prestar ajuda a uma mãe gentia na sua necessidade mais urgente, porque isso seria trazer outro gentil para o mundo. Ate a vinda de Cristo, os gentios eram objeto de desprezo para os judeus. A barreira entre eles era total. Esta é a situação histórica, cultural e social de Efésios 2, embora todos os seres humanos estivessem alienados de Deus por causa do pecado, os gentios também estavam alienados do povo de Deus e pior ate mesmo do que esta dupla alienação (da qual a parede do templo simbolizava). Era a “inimizade” ou “hostilidade”. A in inimizade entre o homem e Deus é a inimizade entre os gentios e os judeus.
O grande tema de Efésios 2 é que Jesus Cristo destruiu as duas inimizades. Ambas estão mencionadas na segunda metade do capitulo, embora na ordem inversa (V. 14 “Ele de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade (Echthra)”. (V.16 “ E reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade (Echthra)”.
1. O retrato de uma humanidade, ou o que éramos outrora (Vs. 11-12)
Nos versículos 1-, Paulo retratou a totalidade da raça humana (Judeu e gentios igualmente) no pecado e na morte. Aqui, nos versículos 11 e 12, refere-se particularmente ao mundo gentio ou pagão antes de Cristo. Os gentios e os judeus se chamavam comumente com nomes ofensivos. Paulo enfatiza este fato aqui. Os gentios eram chamados de “incircuncisao” por aqueles que se intitulam “circuncisao na carne, por mãos humanas”. É como se Paulo declarasse a insignificância de nomes e etiquetas, em comparação com a realidade por trás deles, e dando a entender que, por trás “daquilo que é chamado a circuncisao que é feita na carne por mãos humanas” há outro tipo, uma circuncisao do coração, espiritual e não física, que era necessária tanto aos judeus como aos gentios, e disponível a todos eles.
No versículo 12, ele deixa a questão das ofensas trocadas entre judeus e gentios, e passa para a realidade séria da alienação gentia. Primeiro, estavam em Cristo. No capitulo 1 ele mostra as grandes bênçãos espirituais de estar em Cristo, a segunda e a terceira incapacitações dos gentios eram muito semelhantes entre si. Eram tanto separados da comunidade de Israel quanto estranhos ás alianças da promessa (provavelmente a promessa fundamental feita a Abraão). A quarta e quinta incapacidade dos gentios são declaradas de modo rígido: não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Estavam sem esperança, porque, embora Deus planejasse incluí-los um dia, e assim prometera, eles não sabiam que eram predestinados e, portanto não tinham esperança para sustentá-los e estavam sem Deus.
Esta era a terrível situação do antigo mundo gentio antes de Cristo. Era separado do Messias, da teocracia e da aliança, da esperança e do próprio Deus (Teocracia—governo de Deus). William Hendricksen resume: os gentios estavam “sem Cristo, sem Estado, sem amigos, sem esperança e sem Deus”. Numa frase única de Paulo, estavam longe (13) alienados de Deus e do povo de Deus.
Somos ordenados a nunca esquecermos que éramos antes do amor de Deus se estender para baixo e nos alcançar. Pois somente se nos lembrarmos da nossa antiga alienação (por mais desagradável que ela seja para nós), podemos nos lembrar, da grandeza da graça que nos perdoou e que está nos transformando.
2. O que Jesus Cristo fez (Vs. 13-18)
Os filhos de Israel, povo que lhe é chamado. “por contraste, as nações gentias estavam longe, eram povos que tinham de ser conclamados de longe”. Deus, porém, prometeu que um dia falaria “Paz, paz para os que estão longe e para os que estão perto”, promessa que já foi cumprida. Em Jesus Cristo e que é citada aqui por Paulo com referencia ao Senhor. Mediante Jesus Cristo e pelo Espírito Santo temos acesso a Deus como nosso pai (V. 18). Pois o sangue de Cristo (como em 1.17) significa sua morte sacrificial na cruz por nossos pecados, através da qual nos reconciliou com Deus e uns com os outros, ao passo que em Cristo Jesus significa a união pessoal com Cristo. O que Jesus Cristo realizou por meio da cruz está explicado por Paulo. Não é uma reconciliação universal que Cristo realizou ou que Paulo proclamava, pelo contrario. É uma proximidade de Deus e uns aos outros experimentada com gratidão por aqueles que estão perto de Cristo, até mesmo numa união vital e pessoal. Isso quer dizer, conforme a expressão de John Mackay ao comentar estes versículos, que o principio divino de integração para unir os seres humanos nem é intelectual (pela filosofia), como no catolicismo romano, nem político (pela conquista), como no islamismo ou marxismo, mas sim espiritual (pela redenção por Cristo, que envolve a união entre os judeus e gentios, entre o homem e Deus e, finalmente, entre o céu e a terra).
P. O que Cristo fez quando morreu na cruz, para afastar a inimizade entre os judeus e os gentios, entre o homem e Deus?
R. Aboliu... para que dos dois criasse... e reconciliasse... somos informados que aboliu a lei de mandamentos a fim de criar uma, e uma só nova humanidade, e reconciliar com Deus as duas partes dela.
2.1 A Abolição da Lei dos Mandamentos (V. 15a)
A primeira coisa que Paulo diz é que Cristo derrubou a parede, a hostilidade, quando aboliu na sua carne a Lei dos mandamentos na forma de ordenanças. Deus pode perdoar todas as nossas transgressões porque “tendo cancelado o escrito de divida, que era contra nós e que constava de ordenanças o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz”(2. 13-14).
2.2 A Criação de uma nova humanidade (V. 15b)
Paulo avança agora do negativo para o positivo, da tendência separadora da lei, para a criação de alguma coisa nova (uma nova humanidade, sem divisões). O que Paulo está mencionando na realidade, não é um “novo homem”, mas sim, uma “nova raça humana”, unida por Cristo na sua própria pessoa. Esta nova unidade em e através de Cristo faz mais do que terminar com o abismo entre judeus e gentios. Noutras passagens Paulo diz que também abole distinções sexuais e sociais. “...onde não pode haver grego nem judeu, circuncisao, bárbaro, cita, escravo, livre, porém Cristo é tudo em todos”. E não é que os fatos de segregação humana sejam removidos. Os homens permanecem sendo homens e as mulheres sendo mulheres, os judeus permanecem sendo judeus, e os gentios, gentios, a desigualdade diante de Deus, é abolida. Há uma nova unidade em Jesus Cristo.
2.3 A Reconciliação de Judeus e Gentios com Deus (V. 16)
Não se quer com isto que a totalidade da raça humana esteja agora reconciliada e unida. Há mais uma etapa na obra de Cristo que ele passa a mencionar. É que Cristo vindo evangelizou Paz (V. 17). Já fomos informados que ele é a nossa paz (V. 14) e que criou uma nova humanidade fazendo a paz (V. 15). A primeira palavra que falou aos apóstolos foi: “Paz seja convosco!” E é a proclamação do evangelho da paz para o mundo através dos lábios dos seus seguidores, sempre que proclamava a paz. É Cristo quem a proclama através de nós. E assim muitos membros de cada comunidade a receberam, e acharam-se unidos com Deus e uns com os outros. Porque por ele ambos temos acesso ao pai em um só Espírito (V. 18).
E ao desfrutar desse livre acesso a Deus, descobrimos que não temos qualquer dificuldade prática com o ministério da eterna trindade. Nosso acesso é ao pai, por ele (o filho que fez a paz e a pregou). E por um Espírito que regenera sela e habita em seu povo, que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
3. O que agora viemos a ser (Vs. 19-23)
Paulo começa o seu resumo. Explicou passo a passo o que Cristo tem feito para aproximar de Deus e o seu povo, aqueles que anteriormente no mundo gentio longe.
3.1 O Reino de Deus (V. 19a)
Conforme o versículo 12, os gentios eram forasteiros sem cidadania nem voto. “Separados da comunidade (politéia) de Israel”. Agora, porém, segundo Paulo lhes diz, sois concidadãos (sumpolitai) dos santos, as palavras já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos enfatizam o contraste entre a falta de raízes de uma vida fora de Cristo e a estabilidade de fazer parte da Nov sociedade de Deus. “Já não vivemos com passaporte, mas, sim... temos realmente as nossas certidões de nascimento”...
3.2 A Família de Deus (V. 19)
A metáfora altera-se e torna-se mais intima: sois Da família de Deus. Em Cristo. Vivemos juntos como filhos em uma família. Os filhos do pai, ultrapassando as barreiras raciais, são introduzidos nesta vida fraterna. Irmãos (“No sentido de irmãos e irmãs”) É a palavra mais comum para os cristãos no Novo Testamento. Expressa um estreito relacionamento de afeição, de cuidado e de apoio. Philadelphia, “amor fraternal”, sempre deve ser uma característica especial da nova sociedade de Deus.
3.3 O Templo de Deus (Vs. 20-22)
Paulo agora chega ao seu terceiro quadro. Essencialmente, a igreja é uma comunidade de pessoas. Mesmo assim, assemelha-se em vários aspectos a um edifício, e particularmente a um templo. Paulo refere-se ao fundamento e a pedra angular do edifício, á estrutura como um todo, e suas pedras individuais, sua coesão e seu crescimento, sua função presente e (pelo menos implicitamente) seu destino futuro. Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular (V. 20). No qual todo edifício, bem ajustado cresce... A unidade e o crescimento da igreja vêm em conjunto, e Jesus Cristo é o segredo de ambos.
3.4 Qual é o propósito do Novo Tempo?
Em principio, é o mesmo que o do velho, ou seja: ser a habitação de Deus (V. 22). O Novo Templo, não é uma construção material, nem um santuário nacional, nem tem um terreno localizado, é um edifício espiritual (a família de Deus e uma comunidade inter-racial e tem alcance mundial, onde quer que se achem membros do povo de Deus). É ai que Deus habita. Com este povo Deus fez uma aliança solene. Deus vive nesse povo. Quando Paulo ditava esta carta, existia em Eféso o magnífico templo de mármore de Ártemis (Grande é Diana dos Efésios), uma das sete maravilhas do mundo antigo.
O Apóstolo relembra aos seus leitores gentios que, estáveis alienados de Deus e do seu povo. Cristo, porém, morreu para reconciliar-vos com ambos. É por isto que não sois os estrangeiros – que éreis, mas sim, o reino sobre o qual Deus reina. A família que ele ama e o templo em que ele habita.
Conclusão:
A igreja deve ser aquilo que já é segundo o propósito de Deus e a realização de Cristo, e ser vista como tal: uma nova humanidade, um modelo de comunidade humana, uma família de irmãos e irmãs reconciliados que amam ao pai e amam uns aos outros, a habitação evidente de Deus pelo seu Espírito. Somente então o mundo crerá em Cristo como pacificador. Somente então é que receberá a gloria devida ao seu nome.
Pb. João Batista de Lima
maravilha gostei muito do estudo. A palavra de DEUS nos trás vida e paz.
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