quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Reforma da Igreja em Harmonia com as Escrituras

Por Johannes G. Vos
A reforma da igreja em harmonia com as Escrituras está sempre incompleta na terra. Ecclesia reformata reformanda est (“a igreja, tendo sido reformada, ainda precisa ser reformada”). Isto resulta do fato de que as Escrituras são um padrão perfeito e absoluto, enquanto a igreja, em qualquer ponto de sua história na terra, ainda é imperfeita, envolvida em pecado e erro.
Este processo de reforma tem de ser contínuo até ao fim do mundo. Em nenhum ponto, a igreja pode parar e dizer: “Cheguei ao final. Até aqui e não mais adiante”. Somente no céu a igreja triunfante poderá dizer isso.
No processo de reforma, existem certos estágios históricos e certos marcos de progresso alcançado. Por exemplo, os importantes credos e confissões históricas são tais marcos de progresso. A Confissão de Fé de Westminster, por exemplo, marca o verdadeiro progresso da reforma da igreja até ao tempo em que a confissão foi elaborada.
Nunca podemos considerar este processo como completo em nossos próprios dias ou em qualquer ponto da História da Igreja na terra. Temos sempre de esquecer as coisas que ficam para trás e avançar para as que estão no futuro. Temos sempre de nos esforçar para conquistar aquilo para o que fomos conquistados por Cristo. A doutrina da igreja, a adoração, o governo, a disciplina, as atividades missionárias, as instituições educacionais, as publicações e a vida prática — todas estas coisas têm de ser progressivamente reformadas em harmonia com as Escrituras.
A reforma sempre tem sido uma realização progressiva e, necessariamente, tem de ser assim. Os zelosos tentam empreender a reforma de uma única vez, mas apenas batem a cabeça contra um muro de pedras. Deus age por meio de um processo histórico — um processo contínuo e gradual. E temos de nos conformar à maneira de agir dEle.
A reforma bíblica da igreja é o fruto de submissão ao Espírito Santo falando nas Escrituras.
Não se exige somente o avanço no estudo das Escrituras, um avanço que sobrepuja os marcos do passado, mas também uma auto-análise perscrutadora por parte da igreja. Os padrões secundários da igreja têm sempre de ser sujeitados à avaliação e reavaliação, à luz das Escrituras. Isto está implícito em nossa confissão de que somente as Escrituras são infalíveis. Se esta confissão é verdadeira, todas as outras coisas têm de ser constantemente examinadas e reexaminadas pelas Escrituras.
Não somente os padrões oficiais da igreja, mas também a sua vida, os seus programas, as suas atividades, as suas instituições e as suas publicações têm de passar pela autocrítica perscrutadora com base nas Escrituras. Estas coisas têm de ser testadas sempre à luz da Palavra de Deus. Essa autocrítica, por parte da igreja, é o correlativo do auto-exame ao qual Deus, em sua Palavra, exorta todo crente.
Essa autocrítica, por parte da igreja, é árdua. Exige esforço, inteligência, aprendizado, sacrifício, muita humildade, auto-renúncia e honestidade absoluta. Requer lealdade às Escrituras, uma lealdade que se dispõe a fazer tudo o que for preciso para ser fiel à Palavra de Deus — uma lealdade verdadeiramente heróica e radical para com as Escrituras.
Essa autocrítica, por parte da igreja, pode ser embaraçadora e dolorosa. Pode significar que a igreja, assim como o Cristão, em O Peregrino, escrito por John Bunyan, pode se achar na Campina do Caminho Errado e ter de refazer seus passos, dolorosa e humildemente, até que esteja de volta ao Caminho do Rei. Essa autocrítica, por parte da igreja, pode ser devastadora para os interesses e projetos especiais de alguns crentes ou grupos da igreja. Pode demonstrar que certas características dos padrões, da vida ou do programa da igreja não estão em completa harmonia com a Palavra de Deus; e, portanto, devem ser reconsiderados e colocados em harmonia com as Escrituras.

Por estas e outras razões similares, a autocrítica, por parte da igreja, é freqüentemente negligenciada e, muitas vezes, resistida com vigor. Aqueles que a defendem ou procuram vê-la realizada provavelmente serão vistos como extremistas, fanáticos, entusiastas, visionários, criadores de problemas e coisas semelhantes. No entanto, foi por meio dessa autocrítica que as reformas do passado se realizaram. Homens como Lutero, Calvino, Knox, Melville, Cameron e Renwick estavam preocupados apenas com a opinião de Deus em sua Palavra. Eles não foram impedidos pelas opiniões e atitudes adversas dos homens.
Quando a igreja ousou realmente contemplar-se no espelho da Palavra de Deus, com sinceridade mortal, ela esteve em seu máximo e influenciou o mundo. Ela seguiu adiante com novo ânimo e vigor. Por outro lado, quando a igreja hesitou ou se recusou a contemplar-se atentamente no espelho da Palavra de Deus, ela se tornou fraca, estagnada, decadente, ineficaz e sem influência.
A autocrítica denominacional constante, com base nas Escrituras, é um dever de toda igreja. Mas isto é realmente levado a sério? Quanto zelo, quanta preocupação — também digo, quanta tolerância — existe hoje em relação à autocrítica?
Em toda igreja, existe uma tendência constante de considerar o presente estado das coisas (o status quo) como normal e correto. Assim, o que, na realidade, é um simples costume passa a ter a força e a influência de um princípio, enquanto os verdadeiros princípios chegam a ser considerados como se fossem meras convenções ou costumes humanos, possuindo apenas autoridade resultante de uso e de aprovação popular. A sanção outorgada pelo uso é considerada como suficiente para estabelecer um assunto como legal, correto ou necessário. E, de modo inverso, a falta de uso é considerada como suficiente para provar que um assunto é errado ou impróprio. Este tipo de estagnação, esta atitude de considerar o status quo como normal, fecha a porta contra todo o verdadeiro progresso na reforma da igreja, visto que o status quo é sempre pecaminoso. Sempre fica aquém das exigências da Palavra de Deus. É sempre menor do que aquilo que Deus realmente exige da igreja. Uma vez que o status quo é pecaminoso, ele nunca pode ser considerado com complacência; e, menos ainda, considerado como o ideal para a igreja. É um pecado tornar absoluto o status quo.
Sempre precisamos nos arrepender do status quo. Não importa o quão excelente ele seja, ainda é pecaminoso e precisamos nos arrepender dele. Considerá-locom complacência é um dos maiores pecados da igreja contemporânea — um pecado que entristece o Espírito Santo, um pecado que, com certeza, impede a igreja de realizar seu verdadeiro e correto progresso de reformar-se em harmonia com as Escrituras.

Uma igreja dominada por esta idéia não pode avançar realmente. Na verdade, ela pode até cair em declínio e apostasia. No máximo, ela se moverá em círculo fixo, sempre retornando ao ponto do qual havia partido.

Deus nos chama a buscar a reforma da igreja em nossos dias.
As igrejas, em sua maioria, se moveram em um círculo fixo através de sua história passada. Podemos dizer vigorosamente que elas têm se movido em um ciclo vicioso. O padrão tem sido este: uma dormência seguida por um avivamento, seguido por uma dormência... O verdadeiro progresso ainda não se realizou. Parece que o melhor a ser feito é descobrir como sair de um abismo após outro. Nada é mais prevalecente do que este tipo de estagnação na igreja. Nada é mais difícil do que conseguir realmente avaliar e reformar qualquer aspecto da estrutura e das atividades da igreja à luz da Palavra de Deus.
O verdadeiro progresso significa edificar sobre os alicerces estabelecidos no passado; mas não significa ser dominado pelas mãos letais do erro e das imperfeições do passado. Existe somente um critério legítimo para avaliarmos o verdadeiro progresso; este critério é a própria Palavra de Deus. A verdadeira reforma da igreja é uma reforma alicerçada nas Escrituras. É uma reforma que ocorre dentro dos limites das Escrituras, não uma reforma que vai além das Escrituras.
As instituições, as agências, as publicações da igreja refletem opiniões diferentes, daquelas que ocorrem em nossos dias na igreja? Ou elas têm de assumir sua posição junto aos padrões oficiais da igreja e manter essa postura ao confrontar o público? Ou devem ser os pioneiros na autocrítica denominacional com base nas Escrituras? Elas têm de abrir um novo caminho e seguir para um novo território à luz da Palavra de Deus?
Estas são perguntas sérias e difíceis. A tendência é deixá-las de lado e ignorá-las. Elas raramente são enfrentadas. A tendência é considerarmos o status quo como normal. Ou, se não pensamos assim sobre o status quo do presente, consideramos como normais, em algum grau, as realizações do passado. Se pudéssemos tão-somente retornar às coisas como elas eram nos “excelentes dias de outrora” e manter aquele padrão, dizem alguns, tudo seria ótimo.
Seria ótimo realmente? O que aconteceu? Não estamos naquela época. Como podemos nos desculpar por havermos falhado em ir além de nossos antepassados no entendimento das Escrituras? Como podemos dizer que a reforma da igreja foi completada em 1560, em 1638 ou, ainda, em 1950? O que temos feito? Nosso talento foi escondido em um guardanapo?
Não é difícil admitir que na igreja existem alguns males que precisam de correção. A tendência, porém, é dizermos que, se pudéssemos apenas retornar aos fundamentos corretos de uma ou duas gerações passadas, tudo seria como realmente deve ser. O que mais alguém perguntaria? Poderíamos manter aquela posição por todo o tempo vindouro. Mas isso não seria cumprir os deveres que Deus nos outorgou. Nossos antepassados reformaram a igreja em seu tempo; Deus nos chama a reformá-la em nosso tempo. Não podemos descansar em nossos lauréis. Temos de agir por nós mesmos, pela fé, alicerçados na Palavra de Deus.
A verdadeira reforma busca a verdade e a honra de Deus acima de todas as outras considerações.
Vivemos em uma era pragmática, impaciente com a verdade, bastante interessada em resultados práticos. É uma época de impaciência com aqueles que consideram a verdade acima dos resultados. Nossa era quer resultados e está bastante disposta a crer que figos nascem em cardos, se é que pensa ver algum figo.
Quando alguém procura trazer alguma característica da igreja ao julgamento crítico da Palavra de Deus, já ouvi a objeção de que o tempo não é oportuno. “Você está certo”, alguns dizem, “mas este é o tempo oportuno para você trazer este assunto à baila?” Devemos compreender que a verdade é sempre oportuna e correta; e, se esperarmos um tempo oportuno para a trazermos à baila, esse tempo pode nunca chegar. Essa época mais conveniente pode nunca chegar. Sempre haverá uma razão para sermos instados a não realizarmos a reforma da igreja em harmonia com as Escrituras. Deus é o Deus da verdade. Deus é luz, e não há nEle treva nenhuma. Cristo é o Rei do reino da verdade. Para isto Ele veio ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é nascido da verdade ouve a voz de Cristo.
A excessiva prontidão de aceitar o status quo como normal é um dos grandes obstáculos no caminho da verdadeira reforma e progresso da igreja em nossos dias. Esta atitude é pecaminosa porque está cega para a verdadeira pecaminosidade do status quo. Falha em reconhecer que o status quo é algo do que sempre temos de nos arrepender, algo que sempre precisa ser perdoado pela graça divina e sempre precisa ser reformado pela igreja, na terra. Esta atitude falha em compreender a verdade da afirmação de Agostinho: “Todo bem inferior envolve um elemento de pecado”.
No fundo, esta aceitação complacente do status quo como normal procede de uma idéia errada a respeito de Deus, uma idéia que falha em reconhecer a santidade e a pureza de Deus, que falha em compreender o absoluto caráter das Escrituras como o padrão da igreja.
Colocar a honra e a verdade de Deus em primeiro lugar, acima de quaisquer outras considerações, exige grande consagração moral. Neste assunto, aquilo que é verdadeiro para um indivíduo também é verdadeiro para a igreja: quem perder a sua vida por amor a Cristo, esse a achará.

Fonte: Editora Fiel


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A Necessidade do Novo Nascimento (sermão pregado por Martinho Lutero)


Sermão pregado pelo Reformador Martinho Lutero, para o Domingo da Santíssima Trindade de 11 de junho de 1536:

"Havia um homem dos fariseus que se chamava Nicodemos, um principal entre os judeus. Este veio a Jesus de noite e lhe disse: “Rabi, sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te digo se o homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus”. Nicodemos lhe disse: “Como pode um homem nascer de novo sendo velho? Pode por acaso entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe e nascer?”Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não poderá entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes do que eu te disse: é necessário nascer de novo. O vento sopra onde quer e se ouve o seu som; mas ninguém sabe de onde vem e nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. Perguntou-lhe Nicodemos: “ Como pode acontecer isso?” Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre de Israel  e não sabe disso? Em verdade, em verdade te digo que aquilo sabemos falamos, e aquilo que temos visto testificamos, mas vós não recebeis o nosso testemunho. Se eu vos tenho dito coisas terrenas e não acreditastes, como acreditareis se eu vos falar das celestiais? Ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, o Filho do Homem, que está no céu. E assim como Moisés levantou a serpente do deserto, é necessário que o filho do homem seja levantado para que todo aquele que Nele crer, não se perda, mas tenha vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crer não se perda, mas tenha vida eterna”. João 3:1-16

COMO ALCANÇAR A SALVAÇÃO, a pergunta principal da humanidade

Hoje ainda não lhes foi explicado o Evangelho. Escreve o evangelista São João que certo fariseu de nome Nicodemos veio ao Senhor de noite e teve com ele uma conversa, e Cristo, de sua parte, lhe pregou um sermão para aquele homem piedoso que realmente ele não sabia que fazer com ele: quanto mais o ouvia, menos o entendia.

Sobre essa historia se prega todo ano. Mas como hoje o momento novamente é propício, falaremos mais uma vez sobre ela. Desde que o mundo existe, os sábios que existem nele se perguntam: “De que modo se pode alcançar a justiça e a bem-aventurança?” Essa questão se discute desde quando há homens na terra, e continuará sendo discutida até que o mundo chegue a seu fim. Ainda nos nossos dias atuais pode-se ver com quanto ardor debatemos esse assunto. Todos crêem estar em condições de emitir um juízo, porém, com seu juízo, revelam sua ignorância. Esta mesma questão, como nos informa o Evangelho para o dia de hoje, Cristo a tratou com um homem que, falando nos términos da lei judaica, era uma pessoa corretíssima e muito instruída.

Aquele homem quer discutir sobre aquilo que devemos fazer e como devemos viver para sermos salvos, e espera que Cristo lhe dê uma resposta. “Porque tu” ele diz, “és mestre vindo de Deus, pois os sinais que tu fazes vão além da capacidade de qualquer ser humano. Nós os fariseus ensinamos, no campo do espiritual, a lei de Moisés. Opinas tu que há algo melhor que possa nos recomendar?” Surge assim na discussão entre ambos a pergunta sobre as obras, ou seja, a vida perfeita – a pergunta que inquieta aos homens de todas as gerações.

I. O que tenta alcançar a salvação pelos caminhos das obras, não a alcançará

Já os antigos romanos meditavam com muita seriedade sobre qual era o caminho reto a seguir, acerca de como, por exemplo, se devia lidar corretamente com a casa e a família. Seus interesses se dirigiam diante de toda a exata determinação do que exige a “justiça”. Mas com isso se meteram em um problema que não tem solução, como eles mesmos tiveram que admitir: “excesso de justiça, excesso de injustiça.” Por qual motivo? Porque a “justiça” no sentido estrito da palavra está fora de nosso alcance. Por isso que se tem que buscar o caminho do meio e adaptar-se às circunstâncias. Nesse sentido também se costuma dizer: “acertou como os atiradores quando acertam o alvo”, quer dizer, não graças a sua pontaria, senão graças a um impacto fortuito. Pois um bom atirador e até um eventual ganhador é também aquele que chegou mais próximo do alvo. Assim o reconhecem até os juristas. Tem que se dar por satisfeitos se com seu governo e administração da coisa pública conseguem que ninguém inflija a outro injustiças muito grosseiras, ainda quando seja impossível acertar e aplicar rigidamente a justiça em sua forma pura. Porém quando chega ao poder um desses desorientados, só causa alvoroço, distúrbios e dissensões.

Assim toda autoridade secular tem que se ater ao que é possível. Não obstante, a razão gostaria de elevar a salvação ou a uma ordem política perfeita pela via da injustiça. Porém tal coisa é impossível. Que fazer então? Quase se diria que acontece como com aquele que queria subir uma alta montanha e por não poder fazer, exclamou: “Pois bem, ficarei aqui”. No entanto, Cristo nos diz: “Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20). Ali no sermão do monte o Senhor explica qual o verdadeiro cumprimento da lei, e o que significa acertar o alvo: não se irar, nem mesmo no recôndito do coração; não cobiçar nem mesmo em pensamentos a mulher ou os bens do nosso próximo. Ali se coloca diante dos nossos olhos a justiça mais perfeita. E, apesar de tudo os homens acreditam poder alcançá-la mediante o cumprimento da lei. “Não queremos nem pretendemos”, dizem, “acertar exatamente o alvo”; se o conseguem com certa aproximação, se têm por desculpados. Nós, porém, atentamos para o que nos ensina Cristo: “Ninguém pode ver o reino de Deus ao menos que tenha acertado o alvo”. E no Apocalipse lemos: “Neste tabernáculo não entrará nenhum imundo”. Que devemos fazer pois? Também exclamaremos: “Temos que ficar aqui embaixo, não podemos subir a montanha”?

Tampouco Nicodemos sabe outra coisa que esta: “Eu sou uma pessoa correta, vivo piedosamente conforme a lei e transito pelo caminho que conduz ao céu”. E agora ele quer que esse Mestre lhe expresse sua aprovação ou desaprovação – ainda que não gostaria de pensar nesta última opção, senão espera que o Senhor lhe responda: “Sim, Nicodemos, és perfeito, e ainda: Já és bem-aventurado e os demais entrariam no reino dos céus se fizessem como tu”. Porém, ocorre justamente o contrário: Cristo o bota a correr do reino dos céus: “Por certo, és um homem bom. Porém se não nasces de novo, tua justiça não te servirá de nada.” O “nascer de novo”: esta é a justiça na qual insistimos tanto em nossa pregação. Ou seja: Cristo não tem a intenção de rechaçar a lei, antes quer que ela seja cumprida. “Porém”, diz “a forma como  vós a cumpríeis não tem validade. Cumpríeis a lei só em vossa imaginação, mas não na realidade. Os Dez Mandamentos são perfeitos, e quero que os cumpra. Quem quiser entrar no céu tem que cumpri-los. Porém, com o vosso conceito do ‘direito’ e com a vossa justiça, não os estais cumprindo”. Não temos outra justiça melhor do que a que resultaria do meu cumprimento de tudo o que se manda nas duas tábuas da lei de Moisés. Então seríamos “justos” – porém só justos conforme a justiça dos fariseus, e não conforme a justiça exigida pela lei.

II.  Só a regeneração nos torna participantes da salvação eterna

É-nos dito, pois: “lhe é necessário nascer pela segunda vez”. Para Nicodemos isso é chocante. Ele pensa em outras leis, alem do ponto das leis mosaicas, tais como as que achamos no papado e no judaísmo farisaico; espera que Cristo estabeleça artigos novos, leis novas, todo um código novo. Porém, nada disso: Cristo não diz uma palavra quanto a leis e estatutos novos. “Pois o que possuis em matéria de leis já é mais do que podeis cumprir. Eu, em troca, os prego assim: Vós, vós mesmos precisam chegar ser outras pessoas. Eu não falo de fazer ou não fazer, senão de chegar a ser. Tu tens que chegar a ser outro homem, tens que nascer de novo. Isso será então a justiça que acerta o alvo, a justiça sem mancha nem ruga, a justiça que conseguirá entrar no céu”. Para Nicodemos, ao ouvir Jesus falar dessa maneira, lhe vem certas duvidas. Essas são palavras novas para ele. “Entrar eu pela segunda vez no ventre de minha mãe? Tolice!” Porém a essas tolices Cristo acrescenta outras piores: “não te digo que tenhas de nascer de novo de pai e mãe humanos, senão da água e do Espírito Santo”. Agora, Nicodemos fica totalmente confundido. “Que homem e mulher são esses: água e Espírito?” E como se ainda não fosse suficiente, Cristo lhe pergunta: “Tu és mestre de Israel e não sabes disso?”, o que soa como zombaria manifesta. E sem dúvida, Cristo tem que falar assim porque o assunto é totalmente novo para Nicodemos. Para explicá-lo Cristo recorre a uma ilustração como se quisesse dizer a Nicodemos: “queres que eu desenhe para que tu entendas? Digo-te porém: se não podes captar com a razão, capta-a com a fé. Pois se não acreditaste quando te falei coisas terrenas, como crerás se eu te falasse das coisas espirituais? Nós falamos o que sabemos, e o que sabemos é a verdade e vós não acreditais Pois bem: se alguém não quer crer, deixe-se!”

A nossa pregação, iniciada naquelas condições por Cristo, se apoia exclusivamente na fé. Só com a fé se pode compreender da “regeneração pela água e pelo Espírito”. O Espírito é o homem e a água a mulher. O que isso implica, não o podes medir com a tua razão. Daí o tema que pregamos seja artigo de boas obras ou de fé. E já os papistas aprenderam algo de nós ao dizer que com a fé e a graça começa a vida verdadeiramente cristã. Antes só se falava da missa privada e da invocação dos santos; agora, em troca, dizem que a fé, efetivamente, salva, porém não só a fé, senão a fé em cooperação com nossas obras. E essa cooperação, apóiam, é imprescindível. E a nós criticam duramente afirmando que proibimos as  obras e induzimos os homens à preguiça. Todavia lhes falta bastante para serem tão piedosos e estarem tão próximos da verdade como Nicodemos. Nós nunca proibimos as boas obras; mais ainda: se dizemos algo a respeito das boas obras, nossa própria gente fica logo com raiva, o qual é um claro sinal de que realmente pregamos sobre esse tema.

E apesar disso os papistas seguem blasfemando de nós. Eles ensinam: “as boas obras têm quer vir com a ajuda da fé – vãs palavras que demonstram que esses mestres não têm noção do que é fé, boas obras, nascer do Espírito, nascer de Deus. É por isso que é necessário que estudemos com cuidado o nosso presente texto (João 3:5) e outros iguais. Aqui se fala de “nascer de novo”, não de “fazer algo novo”. Primeiro deves plantar uma arvore, e logo terás também os frutos. Segundo seja boa ou mal a arvore, serão também bons ou maus os frutos. O mesmo ocorre aqui. Nós chamamos um novo nascimento, quer dizer, uma nova maneira de ser, uma nova pessoa, não somente um novo vestido ou novas obras. Quando eu era monge, minha vestimenta era distinta e também minhas obras eram; as sete horas para as orações, a missa, o crisma, o celibato – todas essas eram outras obras, muito dessemelhantes de minhas obras anteriores. Porém a simples mudança das obras não é o que vale; que mude a pessoa, que mudem os pensamentos e o ânimo: esse é o novo nascimento. Portanto não se pode sobrepor as obras à fé. Em que uma criança contribui para que seja concebida e venha à luz? Isso é obra dos pais; a criança não faz nada para que suas perninhas e todos os seus membros cresçam; não é  parte ativa nesse processo de crescimento, senão parte meramente passiva. Qual foi, nesse sentido, a nossa contribuição? Onde estão as obras cooperantes? Queria saber então de onde vem essa insistência de que se deve agregar também obras , e logo obras próprias nossas!

É verdade: a mãe leva a criatura em suas entranhas e lhe dá o calor materno; no entanto, não é obra dela que essa criatura se origine. De igual maneira quem pregamos e batizamos somos nós, no entanto, a palavra e o batismo não são nossos; somente pomos à disposição nossa boca e nossas mãos. Na realidade a palavra e o batismo são de Deus, no entanto somos chamados colaboradores de Deus (1 Coríntios 3:9). É, por certo, uma colaboração bastante modesta a nossa. Não que contribuamos com obra ou a palavra; o único com que contribuo ao batizar e pregar é com a voz, os dedos, a boca. Assim, na geração de uma criança, o pai e a mãe só contribuem com a carne e o sangue como fatores seus; a criatura concebida não contribui absolutamente em nada, senão que “se deixa criar” por Deus todos os seus membros, e a mãe a leva em seu seio. Há alguma razão então para que eu retire a honra de Deus e diga que eu mesmo me gerei e que minha própria atuação contribuiu para que eu nascesse? Isso não significaria um agravo a Deus? Por acaso não somos chamados seus filhos, obras de suas mãos? Se é verdade que as obras colaboram na regeneração, vejo-me obrigado também a achar que eu colaborei com Deus – e isso é uma blasfêmia contra Ele. Mas se é verdade que eu sou nascido de novo, como diz Cristo, não tenho que colaborar com nada, senão que tenho que permanecer quieto e passivo para aquele que é meu Pai e Criador me faça nascer de novo como filho seu. Nesse sentido o apostolo Paulo declara que “nós somos uma nova criação, criados em Cristo para boas obras”. Como se vê, Paulo não se esquece das boas obras, mas as menciona não por que tenham contribuído em algo, não por que sejam elas que produzem a nova criação, mas “para que andássemos nelas”. Se é certo que minhas próprias obras contribuem para que eu seja uma nova criação, bem posso me gloriar de ser meu próprio Deus; porque o criar é obra exclusiva de Deus. Se eu colaboro, então Deus não é meu único Deus, senão que eu também o sou. Por outro lado, se Ele é o único, não o posso ser eu também, como se afirma muito claramente no Salmo: “Ele nos fez e não nós a nós mesmos; somos seu povo e ovelhas de seu pasto”. E não obstante, certa gente incorre em tremenda tolice de sustentar que a fé cria homens novos, mas com a ajuda das obras. Mas precisa de toda lógica dizer que eu me crio a mim mesmo e sou Deus junto com Deus, de modo que Ele me tem a seu lado como um Deus adjunto. Assim como eu não me formei a mim mesmo no corpo de minha mãe, senão que foi Deus quem me formou, valendo-se dos meus membros e do calor de minha mãe, assim tampouco na regeneração somos convencidos mediante nossas próprias forças e obras, senão unicamente pelas mãos e o Espírito de Deus. Em consequência, é ilícito acrescentar obras à fé; do contrário, não é Deus só o que me cria, senão que eu sou simultaneamente com ele meu próprio criador. Ao fogo do inferno com um criador que se cria a si mesmo! A Escritura me chama de uma nova criação de Deus e, não obstante, eu haveria de atribuir a nova criação a mim mesmo? De esse modo eu seria criação e criador, obra e obrador em uma mesma pessoa. A toda luz, esses são pensamentos diabólicos e ensinos de homens cegos. Devemos observar estritamente ao que aqui nos ensina o evangelista São João. Também Paulo nos chama “novas criaturas”. Da mesma maneira, pois, como não contribuo para meu nascimento corporal e pela minha concepção, senão que sou parte meramente passiva e ‘me faço’ gerar e criar, da mesma maneira tampouco as obras contribuem em nada para que o homem seja regenerado. Se não for assim, Deus já não será apenas Deus, senão que nós seremos Deus junto com Ele e seremos nossos próprios progenitores. Mas quando a criatura já está gerada, e quando a criancinha já está formada no seio materno com todos seus membros, a mãe diz: “Sinto que o nenezinho faz as obras que em seu estado pode fazer”. Porem, só o já criado dá esses sinais de sua existência, e só quando foi dado à luz move seus membros, e fica com vida, aprende a caminhar e a cantar. Mas se não tivesse sido criada previamente, agora não se moveria.

III. O regenerado se manifesta como crente mediante a prática de boas obras.

Nossa pregação quanto à nova criação é, pois, uma vez que fomos regenerados, devemos andar em boas obras. Nesse sentido fazemos algo: pregamos; aqueles, todavia, que são convertidos não fazem nada para chegar a sê-lo, já que somos criação e obra de Deus, “criados para que andássemos em boas obras” (Efésios 2:10). Essas palavras nos falam com inteira claridade. A semelhança com uma criatura humana é evidente. A criatura deve se separar do corpo materno; antes de estar completamente formada, não contribui em nada para esse fato. Por que Deus a beneficiou de membros? Para se mover; uma vez nascida deve caminhar, ficar de pé, comer, beber, trabalhar, mandar, pois para isso nasceu. Se não fizesse nada, seria um tronco ou uma pedra. Porém deve fazer algo, para isso foi criada. A isso se refere Cristo quando disse ao fariseu Nicodemos: “Todos vós quereis ser vossos próprios criadores. Possuíeis a lei de Moisés e esforçai-vos para cumpri-la. Porem não obtereis êxito, uma vez que ainda não nascestes de novo; não possuíeis o Espírito Santo. Por conseguinte todas as vossas obras são obras do velho homem. Podeis, por exemplo, construir uma casa ou fabricar um sapato, porém tais obras não têm nada haver com o céu. Não são obras que conferem justiça a quem as faz. Também os gentios são capazes de fazê-las. Ademais trazeis oferendas, circuncidais a vossos filhos, usais as vestiduras sagradas – também isso está ao alcance de qualquer pagão.  Por isso digo que são obras do homem velho, nascido uma só vez, a saber, do seio de sua mãe. Mas se quereis fazer obras que sejam de valor diante de Deus e que tragam proveito ao próximo, precisais nascer de novo. Vós por sua vez acreditam que o fazer obras que exteriormente parecem ser boas já está assegurada a vossa entrada no céu, ainda mesmo o coração não se achando no estado devido. Porem não façais as coisas ao contrário, não comeceis pelas obras!”

Também os papistas são da opinião de que se pode merecer o céu com suas obras que acompanham a graça. É um engano. As boas obras não podem ajudar de nenhuma forma, nem como obras que precedem a graça, nem como obras que lhe correm paralelas, nem tampouco como obras que seguem a graça, senão que tudo tem que proceder do Espírito Santo e da água. “No lugar de pai e mãe vos darei água e o Espírito Santo”, reza a pregação de Cristo. Onde isso é assim, posso dizer: “minhas próprias obras não me criaram, nem me geraram como nova criação, nem tampouco poderão fazê-lo, posto que fui criado e gerado da água e do Espírito”. Também resulta agora fácil provar e julgar os espíritos fanáticos. Pois o que nasceu, o que já foi feito e criado, não tem necessidade de ser feito e criado. Como podem dizer então que as obras subsequentes à graça me geram e me criam? Fazer boas obras é necessário; correto – porém não para chegar a ser por meio delas uma nova criação. Portanto há de se diferenciar entre fé e obras; assim, aqui o Senhor nos ensina. As obras feitas antes da fé são condenadas como pecado. Em contrapartida, as obras feitas por quem já tem fé são obras preciosas e boas. Todavia, tampouco essas servem para nos converter em homens justos, senão para louvar e glorificar a nosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16) e para causar alegria aos anjos. Pois quem por meio de boas obras e de uma pregação frutífera honra ao Pai, receberá também dele a recompensa correspondente. Se não andas em boas obras, tampouco nasceu ainda para elas (Efésios 2:10).

Onde se ensina e se vive dessa maneira, a verdade aqui ensinada por Cristo permanece vigente em toda a pureza. Cristo diz que temos que nascer, Paulo reforça que temos que ser criados por Deus. Falando em termos de comparação com uma criatura: a criatura não se gera nem se faz nascer a si mesma, senão que depois de ser criada pode fazer obras. Analogamente, a árvore frutífera depois de plantada dá frutos. Não se diz: “Se não tiver peras na árvore, essa não é uma árvore”, senão o inverso. Por isso cresce a pereira, para que dê peras, para glória e louvor de Deus o Criador, e para que nós as comamos. Assim, a obra de Deus é a que precede, e a nossa obra é a que segue. Igualmente: se não existisse ferreiro, não existiria machado, pois para que machado corte, previamente precisa ser fabricado. Só um perfeito idiota poderia dizer: “Faz-me um machado que colabore na sua fabricação, de maneira que mediante seu despedaçar e cortar se transforme em machado”. Primeiro se fabrica o machado, e só então se pode empregá-lo nos trabalhos aos quais a ele se destinam.

Sobre esse tema se discute de modo por demais obstinado desde os primórdios da humanidade. E esse é o nosso ensino no qual insistimos com toda energia, afim de que conserve o lugar correspondente na igreja e para evitar que penetrem nela pessoas que atribuem um efeito também às obras precedentes ou concomitantes. Primeiro deve estar a criação, o nascimento: logo pode seguir a obra. Nicodemos não pode compreender isso porque ele vive na crença equivocada de que obterá êxito para entrar no céu graças as suas obras precedentes. Cristo se opõe a ele com um sonoro NÃO: “o que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Todos aqueles que ensinam algo que contrarie esse artigo são falsos mestres. Nós, todavia, cremos e damos graças a Deus pelo fato de que ao fim foi trago a luz e posto ao conhecimento de todos qual é o verdadeiro caminho da vida: “Faz com que eu seja regenerado sem a colaboração de nenhuma obra minha, mas apenas pela palavra e pela fé”. Se tal é o caso, sou filho de Deus, tenho livre acesso a casa de meu Pai, e tudo quanto faço é bom e aceito diante de seus olhos. Se meu pé escorrega, Ele me castiga.  Se eu sou uma arvore boa, levo frutos bons. Se a árvore é tomada por vermes nocivos, o Pai os extermina. Se eu sou um bom machado, sirvo para cortar; se no machado se produz uma falha, também esse mal poderá ser sanado pelo Pai. Por isso vós os fariseus estais muito distantes do alvo com vossas obras precedentes; porque dessas resulta não mais que uma justiça válida diante dos olhos do mundo e para ela vale o que acabo de dizer quanto ao atirador. A justiça proveniente da fé acerta o alvo: aponta ao centro mesmo e penetra até a vida eterna – não por nossos próprios meios, senão em união com aquele que é o Mediador, do qual se fala na parte final do evangelho (João 3:14 e similares). Fomos criados por Ele e somos recriados por Ele; por meio Dele somos uma criação perfeita, apesar de ainda não estarmos livres de faltas e debilidades.

Isso se chama falar de forma cristã sobre a regeneração, da qual os papistas, os turcos e os judeus não têm o menor conhecimento. Estou seguro, portanto, que no Concílio[1] dos papistas rejeitarão esse artigo, já que a norma deles é julgar a obra de Deus segundo eles mesmos a entendem. Cristo, porém, sustenta invariavelmente: “O que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. É preciso, pois, deixar de lado os pensamentos próprios, a sabedoria própria, as opiniões próprias e ouvir somente a palavra por meio da qual é criado em ti um coração novo sem a tua contribuição, como o novo ser no corpo da mãe. Este texto soluciona a questão que se vem debatendo no mundo inteiro sobre como é possível uma vida bem-aventurada e feliz. Não há outro meio que a justiça efetuada pela regeneração não atinja o alvo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Reforma Protestante


Por - Denis Monteiro
Estamos no mês da comemoração da Reforma Protestante e temos que relembrar as obras feitas pelos reformadores e entre os mais conhecidos, Lutero e Calvino.
Em por menores, os dois não só lutaram contra as heresias do romanismo e dos libertinos, mas também apoiaram que a Igreja seja parceira do Estado e que a Igreja interaja com a Escola, dando-lhes fundamentos bíblicos doutrinários para que haja uma sociedade conhecedora de Deus e filhos em escolas que aprendam sobre o Deus soberano. Como disse Calvino, Deus por intermédio destes ensinos pode despertar o pecador eleito para o arrependimento.
Mas ao passar dos anos a Igreja, se assim pode se chamar, voltou as práticas romanistas mas com outro rotulo e se desprendendo do Estado e das escolas, dizendo eles, que são uniões demoníacas e que não agradam a Deus, Igreja é Igreja e Estado é Estado e cada um no seu quadrado (me desculpem do termo usado).
Hoje, quase já não há mais, igrejas reformadas interessada que todo o mundo siga a Palavra de Deus, mesmo não sendo salvos. Mas há hoje, e muito, igrejas reclamantes que não têm temor de Deus e não leem a Santa Palavra de Deus e que não percebem o agir soberano de Deus por intermédio de governadores e reis. Acorda Igreja REFORMA acorda Igreja do Senhor!



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Será que estou escandalizando?


Por - Igor Campos
"Você não deve falar de certas coisas neste lugar, vai causar escândalo!"
"Temos que deixar de fazer tudo que escandaliza os irmãos!"

Há tempos tenho ouvido frases como essas. A última me foi dita quase com furor há algumas semanas. É escândalo disto, escândalo daquilo. Parece que o vocabulário de algumas pessoas é resumido nessa palavra. Entretanto, muitos cristãos não tem conhecimento verdadeiro acerca do conceito de escândalo. Preocupa-me quando usam-no para descrever qualquer comportamento ou atitude que desagrade suas preferências pessoais ou em prol de um "bem estar social". Para entender melhor, é necessário estabelecer o que de fato é escândalo. E já cito de antemão duas postagens muito boas que auxiliaram  a construção deste texto: Escandalizar ou não escandalizar? Eis a questão! e Escândalo - pedra de tropeço no caminho.
Conceito
A palavra escândalo vem do grego skandalon, que é usada para traduzir duas palavras do hebraico: 
a)  michsol,  significa uma pedra de tropeço. Assim está em Levítico 19:14: “Não porás tropeço diante do cego.” 
b) mokesh, que  significa um laço ou armadilha. Declara-se em Josué 23:13 que as alianças com as nações estrangeiras são laços e redes.

A palavra escândalo, genericamente, é usada para substituir os termos "tropeço" e "cilada", embora ambas tenham um mesmo significado prático: uma ação deliberada para fazer com que alguém erre ou vacile.

Outros skandalon na Bíblia

Na explicação da parábola do joio em Mateus 13, nos versos 41 e 42 é dito: "Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa". Em Lucas 17:1-2 "Disse Jesus a seus discípulos: É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vem! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos". Jesus deixa clara sua abominação pelo escândalo. Melhor é a morte que fazer com que outro tropece. No entanto, o próprio Cristo foi causador de escândalos. Novamente no evangelho de Mateus, no capítulo 15 lemos: "Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus, ouvindo a tua palavra, se escandalizaram? Ele, porém respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são cegos, guias de cegos.".

skandalon em I Coríntios 8

"No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus. Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos. E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais." (I Coríntios 4;8;11-12)
Há uma questão a ser tratada aqui antes de prosseguirmos. Em primeiro lugar, esse texto fala exclusivamente  acerca de alimentos sacrificados a ídolos. Comer carne num templo pagão era algo que hoje equivaleria a comer num restaurante, mas com o agravante de que muitos consideravam tais refeições como ato de idolatria. Embora não houvesse pecado em comer num templo pagão, o pecado surgia se o ato fosse feito deliberadamente como adoração pagã [1]. O cuidado aqui é com o cristão fraco, pelo qual Cristo morreu. Esse cristão deveria ser instruído sobre essas práticas e onde está a origem desse pecado. Não há no texto nenhuma orientação quanto aos ímpios. O problema começa quando os cristãos atuais pregam a abstenção total de práticas "erradas" de acordo com usos, costumes e tradições, para que não exista a possibilidade de sermos confundidos com não-crentes.

Um exemplo para chegamos ao ponto de tensão: para a maioria dos crentes, não é possível beber uma cerveja com os amigos e amar a Deus verdadeiramente. A pior parte é que ao invés de tentarmos corrigir essa cultura errada, preferimos nos calar e simplesmente abrir mão de tudo que não agrada aos crentes para não escandalizar. Lastimável!

Concluímos dessa forma que há duas formas de escândalo. A primeira é o skandalon propriamente dito, quando temos a intenção de fazer com que alguém tropece com alguma atitude nossa. Esse acontece quando pessoas que já conhecem Cristo continuam com suas vidas vazias, sem nenhuma ética e seus valores totalmente corrompidos. Essas atitudes afetam diretamente aqueles que são novos na fé, que vacilam por imitar tais práticas pecaminosas.

A segunda forma é o oposto, o skandalon provocado pela ação transformadora de Deus em nossas vidas, que nos faz viver de acordo com bases éticas e morais totalmente contrárias às do mundo. Esse é o escândalo que Cristo causou: uma quebra de falsos paradigmas. A palavra da cruz é loucura para os que perecem (I Coríntios 1:18) e Cristo é escândalo para os judeus e loucura para os gentios (I Coríntios 1:23).

Devemos viver uma vida de santidade de acordo com os princípios de Deus, para que não escandalizemos os novos convertidos. Qual o verdadeiro e necessário compromisso com os neófitos? Instrução! Caminhemos juntos, estudemos e aprendamos juntos, para esses não cairem em pecado por nossa causa.

Quanto aos ímpios, temos que escandalizá-los como Cristo o fez, com nossa moral e ética pautadas nas Santas Escrituras. Escandalizar também os novos fariseus combatendo o seu legalismo. Devemos nos preocupar é com os escândalos dos falsos pastores com suas teologias satânicas, os crentes na política que só envergonham o evangelho, e não com quem usa bermuda na igreja, pastor que prega sem usar terno, pessoas que usam piercings e tem tatuagens. Fazer isso não é nenhum ato de amor ou preocupação, mas um falso exercício de piedade contrário às Escrituras.

"Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo." Colossenses 3:15.

Referências:
[1] Bíblia de Estudo de Genebra

A coluna da Verdade


A coluna da Verdade
Escrevo-lhe estas coisas, embora espere ir vê-lo em breve; mas, se eu demorar, saiba como as pessoas devem comportar-se na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade. (1 Timóteo 3.14-15)
Paulo chama a igreja de “coluna e fundamento da verdade”. Isso nos diz, não o que a igreja deve ser, mas o que a igreja é. A importância dessa distinção se tornará mais clara depois, mas primeiro devemos considerar se as duas metáforas estão sujeitas a mau entendidos.
Alguns escritores preocupam-se que as metáforas “coluna” e “fundamento” podem dar às pessoas a impressão que a igreja é a própria fonte e base da verdade. Contudo, toda a Escritura testifica contra isso, e por isso eles estão interessados em expor o versículo de uma forma que evite a falsa interpretação.
Dessa forma é tido que a metáfora da “coluna” é feita no contexto da arquitetura antiga. Um templo pagão, por exemplo, pode incluir várias colunas de ornamento que servem não somente para sustentar a estrutura, mas para demonstrar a riqueza e glória associada com a divindade. Os escritores parecem mais preocupados com a metáfora do “fundamento”, e sugerem que uma tradução melhor seria “baluarte” ou “esteio”. Isto é, a igreja não é o próprio fundamento da verdade, mas apenas seu protetor.
O problema tem sido exagerado. Não somos católicos que tentam distorcer palavras e frases individuais da Escritura para justificar suas doutrinas inventadas por homens. Somos cristãos que respeitam o todo da Escritura, e leem palavras e frases individuais considerando o contexto de todo o santo livro. A Escritura é um produto da inspiração divina, de forma que palavras e frases individuais são de fato importantes, tanto que doutrinas inteiras podem depender delas; contudo, essas palavras e frases não permanecem sozinhas, e não mantém seus significados no vácuo. E muito menos estão sujeitas a interpretações arbitrárias impostas sobre elas.
O mesmo apóstolo que escreve que a igreja é a coluna da verdade também prega que Deus “não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo” (Atos 17.25). Quão tolo deve ser então uma pessoa pensar que a metáfora aqui poderia ser distorcida para significar que a igreja é o suporte da verdade no sentido que a verdade iria se desintegrar se não fosse a igreja. Algumas pessoas falam como se a apostasia dos homens pudesse frustrar o plano de Deus. Não, ela não pode. Eu estou certamente preocupado com o estado da igreja e do clima espiritual do mundo, mas somente como uma questão de zelo, e não por medo e terror quanto ao resultado final. A verdade permanecerá quer a igreja permaneça ou não. E a igreja permanecerá quer pareça haver muitos crentes fiéis ou não, visto que Cristo disse que iria edificá-la, e que nem mesmo o inferno prevaleceria contra ela. A metáfora refere-se a uma função da igreja, e não ao seu poder inerente. Não há lugar para má interpretação.
Quanto à ideia de fundamento, a palavra não sugere algo como uma fonte ou originador. O fundamento de uma construção não é o designer, o construtor ou o criador do edifício. É somente o local onde o edifício foi posto. Nem pode a metáfora sugerir que a igreja é o fundamento da verdade no sentido que o fundamento de um sistema intelectual consiste dos primeiros princípios a partir dos quais o restante do sistema é deduzido. Isso acontece porque a igreja em si não é nenhuma parte dos conteúdos de um sistema intelectual.
Se a metáfora fosse sugerir uma ideia como construtor ou criador, ou fonte, precisaríamos mais, quer do contexto imediato ou do pano de fundo da Escritura para forçar essa interpretação. Isso está algumas vezes presente quando a metáfora do “fundamento” é usada em outros lugares, mas o contexto e o pano de fundo impedem essa interpretação aqui. Paulo instrui os cristãos a se comportarem de uma maneira que sirva à verdade. Mas se a igreja produz a verdade, então o que a igreja produz é a verdade. Contudo, Paulo não define a verdade em termos da igreja, mas define a igreja em termos da verdade. A verdade foi revelada por Deus, e é fixa. Quer uma comunidade seja ou não a igreja depende de sua relação com a verdade.
Isso aborda uma das questões mais prementes que os cristãos devem considerar, e eles devem examinar suas comunidades à luz da resposta. O que a igreja deve ser? Há alguns que dizem: “O que é a verdade?” E sua resposta é: “Pergunte à igreja. A verdade é o que a igreja diz ser”. Essa não é a visão cristã. Antes, perguntamos: “O que é a igreja?”. E respondemos: “Deus nos revelou a verdade por meio da Escritura. A igreja é a comunidade que afirma essa verdade em comum, e que promove e protege essa verdade sobre Deus e Jesus Cristo”.

Segue-se que qualquer comunidade que falhe em afirmar, promover e proteger a verdade não é a igreja. Se ela cessa de suportar e demonstrar a verdade como uma coluna, e se não mantém reta e estável a verdade como um fundamento, então ela não é a igreja. A coluna e o fundamento da verdade não é o que a igreja deve ser, ou deve lutar para se tornar, mas sim o que a igreja é. Em outras palavras, se uma assembleia não é uma coluna e fundamento da verdade, ela não é uma igreja. Não importa o que faça – pode unir pessoas em amizades, pode se exceder em caridade, ou pode advogar a justiça social – ela não é uma comunidade cristã.
Considere dois exemplos. Há igrejas que se chamam assembleias cristãs, mas sua posição oficial nega a inerrância da Escritura, que a Bíblia é um produto da inspiração divina, de forma que é correta em cada detalhe e carrega autoridade absoluta. Essas congregações perderam todo o sentido de verdade. Não há nenhuma base para chamá-las de igrejas cristãs. Então, há algumas denominações que casam homossexuais, e ordenam formalmente alguns deles como pregadores. Essas organizações não funcionam como colunas da verdade, mas tentam redefinir a verdade afirmando algo contrário à verdade já revelada por Deus.
A Bíblia revela a verdade em proposições e doutrinas fixas, e define a igreja como aquela que funciona como sua coluna. Essas denominações revertem isso em seu pensamento e prática – sua suposição fixa é que eles são a igreja cristã, e a verdade é o que declaram ser, e que a verdade está sujeita à modificação à medida que as opiniões de homens mudam e se alteram. O pecado da homossexualidade é importante, e não podemos ignorar o fato que essas denominações o toleram. Mas a questão aqui é que sua política é somente um resultado de uma apostasia mais geral, um abandono anterior da fé, no fato deles já terem se afastado da verdade da revelação divina. E porque eles não são o promotor e protetor da verdade, mas antes tentam inventar suas próprias doutrinas de acordo com os sentimentos dos tempos, eles não são mais igrejas cristãs.
O que isso significa é que todos os cristãos deveriam denunciar essas denominações e congregações que adotam tal política, e eles deveriam ser considerados excomungados do reino de Cristo. Nenhum cristão deveria apoiar essas denominações e igrejas com parte de seu tempo, dinheiro ou boa vontade, e nenhum cristão deveria participar de suas reuniões como se estivessem frequentando cultos cristãos. Sem dúvida, podemos nos dirigir a esses grupos como assembleias não cristãs, chamando-os ao arrependimento e conversão por meio da fé em Jesus Cristo e o assentimento genuíno à verdade.
Eu endosso a ideia que deveríamos buscar a paz uns com os outros, e que nem toda divergência doutrinária deveria resultar num rompimento total. Contudo, existe uma tendência equivocada entre os cristãos de buscar a paz unindo-se ao redor de uma quantidade mínima de verdade. Mas desde quando a fé em Jesus Cristo é uma busca pelo mínimo? Antes, ela é uma proclamação de toda a revelação de Deus, a verdade inteira sobre Deus que ele revelou. Ela é uma busca pelo máximo, por um entendimento completo e por toda a plenitude de Deus.
Algumas vezes é sugerido que quando consideramos a legitimidade de uma igreja, deveríamos perguntar se ela transmite ou não pelo menos “o evangelho”, e mediante isso quer-se dizer o mínimo da verdade. Mesmo que o mínimo Cristianismo ainda seja Cristianismo, certamente não é bom Cristianismo, e é contrário ao espírito da fé apoiá-lo. Um cristão mínimo, se é que existe tal coisa, pode de fato ser um cristão, mas que ninguém o considere como um mestre! E uma igreja mínima, se é que existe tal coisa, pode de fato ser uma igreja, mas por que alguém deveria se unir a ela?
Fonte: Reflections on First Timothy

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Confie em Deus e não em estratégias humanas


Por  – C. H. Spurgeon
“Pois tive vergonha de pedir ao rei uma escolta de soldados, e cavaleiros para nos defenderem do inimigo pelo caminho, porquanto havíamos dito ao rei: A mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam, para o bem deles; mas o seu poder e a sua ira estão contra todos os que o deixam” Esdras  8:22
Uma escolta em muitos aspectos teria sido desejável para o grupo de viajantes, mas um santo sentimento de vergonha não permitiria que Esdras procurasse uma. Ele temia que o rei pagão pensasse que sua declaração de fé em Deus fosse mera hipocrisia, ou imaginasse que o Deus de Israel não fosse capaz de proteger Seus próprios adoradores.
Ele não poderia deixar sua mente confiar no braço da carne (ver II Cr. 32:8)  numa questão evidentemente do Senhor e, assim, a caravana inicia sua jornada sem proteção visível, guardada por Aquele que é a espada e o escudo de Seu povo. Receio que poucos crentes sintam este zelo santo por Deus; mesmo aqueles que de certa forma andam pela fé, ocasionalmente estragam o brilho de sua vida ao suplicar o auxílio dos homens.
Não existe maior bênção que não ter qualquer apoio ou suporte, a não ser ficar direto na Rocha Eterna, sustentado somente pelo Senhor. Buscariam os crentes doações para suas igrejas se eles se lembrassem que o Senhor é desonrado ao pedirem socorro a César? Como se o Senhor não pudesse suprir as necessidades de Sua própria causa!
Recorreríamos tão rapidamente à ajuda de amigos e familiares se nos lembrássemos que o Senhor é glorificado pela nossa confiança absoluta em Seu braço? Ó minh´alma, espera só em Deus. "Mas", alguém diz, "os meios não podem serem usados?" É claro que podem; mas nossos erros raramente consistem em sua negligência: na maior parte das vezes florescem da tolice de crer nos meios em vez de crer em Deus.
Poucos fogem, não confiando tanto na ajuda humana; no entanto, muitos pecam muito ao dar-lhe demasiada importância. Aprenda, querido leitor, a glorificar o Senhor por recusar valer-se dos meios, se, ao utilizá-los, vier a desonrar o nome do Senhor.
Fonte: C.H. Spurgeon
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sábado, 15 de setembro de 2012

A Reforma Protestante 1517


A Reforma Protestante 1517
A Reforma do Século XVI
Movimento restaurador.
Primariamente religiosa; dimensões políticas, econômicas e sociais.
Origem das igrejas históricas do protestantismo.
Quatro manifestações principais: luteranismo, calvinismo, anabatismo e anglicanismo
Causas
A situação da Igreja Católica medieval.
A insatisfação política e religiosa dos povos europeus. O nacionalismo emergente.
A ansiedade e insegurança provocadas pela espiritualidade vigente.
Preparação
Os pré-reformadores:
João Wyclif (c.1325-1384) e os lolardos.
João Hus (c.1372-1415) e os irmãos boêmios/morávios.
A tradução das Escrituras nas línguas locais.
A obra dos humanistas.
O Estopim da Reforma
A experiência religiosa de Lutero.
A eleição do sacro imperador  romano (Alemanha).
A escolha do arcebispo de Mainz (Alberto de Brandemburgo)
A venda das indulgências.
As Noventa e Cinco Teses.
1. A Reforma Luterana: Martinho Lutero
1483 - Nasce em Eisleben, leste da Alemanha, filho de Hans e Margaretha Luder.
Martinho Lutero
1505 - Ingressa no mosteiro agostiniano de Erfurt.
1512 - Torna-se professor da Universidade de Wittemberg.
1517 - 31 de outubro: convoca a comunidade acadêmica para um debate sobre as indulgências (as 95 Teses).
1519 - Em debate com João Eck, defende Hus e afirma que papas e concílios podem errar.
1520 - Bula Exsurge Domine dá-lhe 60 dias para retratar-se. É queimada em praça pública.
1520 - Escreve À Nobreza Cristã da Nação Alemã, O Cativeiro Babilônico da Igreja e A Liberdade do Cristão.
1521 - Bula de excomunhão: Decet Pontificem Romanum.
Lutero vai à Dieta de Worms: defende-se e é condenado.
Refugia-se no Castelo de Wartburg, onde começa a traduzir a Bíblia.
Luteranismo
Idéias de Lutero difundem-se na Alemanha e na Europa graças à imprensa.
1529 - Dieta de Spira: surge o nome “protestantes.”
1529 - Filipe de Hesse convoca o Colóquio de Marburg. Divergência entre luteranos e zuinglianos sobre a Ceia do Senhor.
Surgem igrejas nacionais luteranas na Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia.
Na Alemanha, ocorrem guerras entre católicos e luteranos, que cessam com a Paz de Augsburgo (1555).
Princípio: “cuius regio, eius religio.”
Houve novas guerras na primeira metade do século XVII, até a Paz de Westfália (1648).
2. A Reforma Calvinista
O segundo movimento de reforma surgiu na Suíça.
Seus primeiros líderes foram Ulrico Zuínglio (Zurique) e João Calvino (Genebra).
Esta segunda expressão histórica do protestantismo ficou conhecida como “movimento reformado.”
Ulrico Zuínglio
1484 - Nasce em Wildhaus.
1516 - Lê o Novo Testamento traduzido por Erasmo.
1518 - É nomeado sacerdote da catedral de Zurique. Torna-se afamado pregador bíblico.
1522 - Questiona o jejum da quaresma e o celibato clerical; abandona o sacerdócio e torna-se pastor evangélico.
Zuínglio
1523 - Início dos debates públicos em Zurique. Os Sessenta e Sete Artigos.
Zuínglio casa-se publicamente com Ana Reinhart.
1525 - As missas são abolidas em Zurique. Passa-se a celebrar a Ceia do Senhor. Surge o movimento anabatista.
1529 - Encontra-se com Lutero e outros líderes no Colóquio de Marburg.
1531 - Morre na segunda batalha de Kappel.
Movimento reformado difunde-se na Suíça e no sul da Alemanha.
Bullinger, sucessor de Zuínglio
Participantes do Colóquio de Marburgo
Martinho Lutero
Justus Jonas
Filipe Melanchton
André Osiander
Estêvão Agrícola
João Brentz
João Ecolampádio
Ulrico Zuínglio
Martin Butzer
Gaspar Hedio
João Calvino
Com a morte precoce de Zuínglio, o movimento reformado passou à liderança de João Calvino.
1509 - Calvino nasce em Noyon, no nordeste da França. Seus pais são Gérard Cauvin e Jeanne Le Franc.
1523 - Estuda e humanidades e teologia em Paris.
1528 - Estuda direito em Orléans e Bourges.
1531 - Retorna a Paris e retoma seus estudos humanísticos. Escreve um comentário do tratado de Sêneca “De Clementia.”
1533 - Converte-se e tem de fugir de Paris. Começa a escrever a sua obra magna.
1536 - Primeira edição da Instituição da Religião Cristã ou Institutas (Basiléia).
1536 - Deseja ir para Estrasburgo; Guilherme Farel convence-o a ficar em Genebra.
1538 - Devido a conflitos com as autoridades civis, ambos são expulsos.
1538-41 - Calvino passa três anos felizes em Estrasburgo:
Pastoreia uma igreja de refugiados franceses.
Participa de conferências com o reformador Martin Butzer.
Leciona na academia de João Sturm.
Casa-se com Idelette de Bure.
Escreve diversas obras.
1541 - Calvino retorna a Genebra; Escreve as Ordenanças Eclesiásticas. Enfrenta uma longa luta com os magistrados.
1559 - Torna-se cidadão de Genebra, funda a Academia e publica a última edição das Institutas.
1564 - Morre no dia 27 de maio.
Princípios calvinistas
A soberania de Deus na criação, providência e redenção.
O estudo sério e criterioso das Escrituras.
A importância da educação, para os pastores e os crentes em geral.
Governo representativo através de presbíteros e concílios.
3. A Reforma Anabatista
1522 - Grupo de jovens religiosos e humanistas reúne-se em torno de Zuínglio, em Zurique (os Irmãos Suíços).
1525 - Conflitos acerca do batismo infantil; primeiros batismos de adultos e primeira congregação anabatista.
Também conhecidos como reformadores radicais.
Anabatistas
1527 - União Fraternal reúne-se em Schleitheim e aprova uma Confissão de Fé escrita por Miguel Sattler.
Começa um período de intensas perseguições em diversas partes da Europa.
1534-36 - Extremistas criam uma teocracia em Munster e são destruídos.
1536 - Menno Simons torna-se líder dos anabatistas da Holanda. Fundador da Igreja Menonita.
1540 - Simons publica a obra Fundamento da Doutrina Cristã.
Princípios Anabatistas
Volta ao ideal da igreja primitiva.
Separação entre igreja e estado.
Batismo de adultos, por imersão.
Afastamento do mundo.
Fraternidade e igualdade.
Pacifismo: proibição de porte de armas e serviço militar.
Vida comunitária em colônias agrícolas.
4. A Reforma Anglicana
Ao contrário de outros países da Europa, na Inglaterra a Reforma foi introduzida pela ação direta de alguns reis.
1527 - Henrique VIII procura a anulação do seu casamento com Catarina de Aragão, mas o papa recusa-se a atendê-lo.
Henrique VIII
1533 - Um tribunal eclesiástico inglês declara nulo o casamento do rei.
1534 - O Ato de Supremacia reconhece o rei como “chefe supremo” da Igreja da Inglaterra.
1547 - Eduardo VI sucede o pai. Seus conselheiros são todos protestantes.
Eduardo VI e Maria I
1549 - Adotado o Livro de Oração Comum, escrito por Thomas Cranmer, Arcebispo de Cantuária.
1552 - Cranmer escreve os Quarenta e Dois Artigos (teologia calvinista).
1553 - Eduardo morre e sua irmã Maria Tudor sobe ao trono.
Maria I, a sanguinária
1555 - Muitos evangélicos são mortos ou exilados. Mártires mais famosos: Nicolau Ridley e Hugo Latimer.
1556 - Cranmer também é morto na fogueira.
1558 - Maria morre e é sucedida por sua irmã Elizabete.
Elizabete I
Elizabete tem um longo governo de 45 anos (1558-1603) e implanta definitivamente o protestantismo na Inglaterra.
O anglicanismo reúne elementos católicos (hierarquia, liturgia) e reformados (teologia).
Compõe-se da Igreja Alta e da Igreja Baixa (evangélica).
A Reforma Escocesa
A Reforma na Escócia é parte da Reforma Calvinista.
O líder que mais contribuiu para implantar o calvinismo na Escócia foi João Knox (c.1514-1572).
No continente europeu, as igrejas calvinistas foram chamadas de igrejas reformadas; na Escócia, igrejas presbiterianas.
O Presbiterianismo
No século XVII, os calvinistas ingleses e escoceses realizaram a Assembléia de Westminster.
Os escoceses-irlandeses levaram o presbiterianismo e os padrões de Westminster para os Estados Unidos.
Simonton, um descendente de escoceses, trouxe o presbiterianismo para o Brasil.
Princípios dos reformadores
A Escritura: única regra de fé e prática (sola Scriptura).
Cristo como único mediador (solo Christo).
Salvação pela graça, mediante a fé (sola gratia e sola fides).
Sacerdócio universal dos fiéis.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

SONHAR É PRECISO


SONHAR É PRECISO
Eu tive um sonho, um sonho desses que outros já sonharam e que parece não morrer nunca.  Sonhei que a igreja Reformada desses pais era menos egoísta e mais solidaria que havia engajamento com as questões sociais e que os nossos templos ociosos eram bem mais utilizados na semana na realização de projetos comunitários que visam resgatar a cidadania, promover inclusão social e combater as diversas formas de injustiça. Sonhei que o modelo de relacionamento comunitário da Trindade servia de modelo para as igrejas, pastores, lideres,  membros e congregados. Como conseqüência havia menos proselitismo, menos preocupação com o poder e mais preocupação com o caráter, mais humildade e menos vaidade, mais espiritualidade e menos ativismo religioso. Sonhei que o marketing e a publicidade davam lugar à oração e ao evangelismo pessoal, e que missão deixava de ser um tipo de status quo para ser simplesmente um compromisso de quem ama o Reino de Deus. Sonhei que desistíamos todos de submeter à igreja as leis de mercado por crermos simplesmente na eficácia do evangelho como suficiência de Deus no alicerce e transformação regeneradora dos pecadores moribundos. Sonhei que na igreja evangélica Reformada já não havia lugar para quem tenta massificar a fé, mercadejando o evangelho a preços promocionais inescrupulosos, ao mesmo tempo em que lucra com a valorização das “ações” do competitivo mercado religioso. Sonhei com o retorno da igreja as Escrituras numa caminhada gloriosa de redescoberta da espiritualidade bíblica, da missão integral, do relacionamento intimo com Deus, da sua vocação sublime, da ética e do testemunho de quem vive como sal da terra e luz do mundo.
Sonhei que nesse contexto de despertamento espiritual a IPB redescobria suas origens doutrinarias reformada, sua experiência missionária Calvinista, e seu fervor espiritual Cristocentrico. Sonhei que continuávamos construindo templos sem, no entanto, s m perdermos de vista que a prioridade da igreja é missões. Sonhei então que as nossas ofertas anual de missões deixavam de ser anual para ser mensal e que as nossas ofertas para missões superavam os alvos de construção. Sonhei que já não membros inadimplentes ou infiéis nessa matéria. Sonhei que os pastores apascentavam-se mutuamente, que havia mais humildade entre todos e que nos tornávamos ensináveis, corrigíveis e conscientes das nossas fraquezas e pecados. Sonhei que as nossas igrejas eram mais cooperativas, servindo com dedicação e santidade. Sonhei ainda que era possível canalizar nossas energias, recursos e talentos para fortalecer a missão em vez dos nossos pequenos guetos religiosos e espaços de poder.
Depois de sonhar com tudo isso, me dei conta de que na realidade eu não dormia, eu estava bem acordado, como bem acordado precisamos estar, a fim de que possamos construir uma nova página na nossa história de igreja que glorifique a Deus. Que o Senhor provoque em nós um inconformismo profundo nos nossos corações no anseio de vivenciarmos um novo tempo. Uma nova realidade.

No amor de Cristo,
Pb. João Batista de Lima

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Jesus, o Cristo que ressuscita mortos.


Texto: João 11.28-46.
Tema: Jesus, o Cristo que ressuscita mortos.
Por João Batista de Lima

Introdução: A Bíblia com toda sua revelação, narra nesta historia a tristeza, o sofrimento e a dor que foi causado pelo pecado. E mostra que Jesus estava indignado com o pecado. Mas, revela também um Deus amoroso que se compadeça dos homens pecadores e que dar-les a vida eterna.
 Para que você saiba que é possível estar fisicamente vivo e espiritualmente morto, você precisa discernir um fato: que o nível físico, o nível do Espírito (o nível da alma), para existirem não se faz necessária uma simultaneidade. Lazaro estava morto fisicamente, mas estava vivo espiritualmente.
Seu corpo morrera, mas Espírito não.
Vamos descobrir se você esta morto, ou vivo espiritualmente das seguintes formas.

I. Mortos não têm apetite. Os evangelhos ensinam que Maria e marta faziam quitutes saborosos (Lc 10). Todavia, posso garantir-lhes que, depois de quatro dias de putrefação; depois de envolto na sombria morte, não havia perfume de comida apetitosa que levantasse Lazaro daquela tumba simplesmente porque nada apetece aos mortos espiritualmente, mortos não tem apetite. É por isso que homens mortos espiritualmente não têm gosto pela Bíblia e sua leitura, não gostam de oração, não tem fome de Deus, é por causa dos benefícios que Deus pode dar. Não é a pessoa de Deus que os atrai, pois eles não têm apetite por Deus. Deus não é para ele o grande prazer da vida.

II. Mortos não têm ação. O que caracteriza a morte é a inércia mais profunda. Não tem ação espiritual, sua argumentação é que não tem tempo. Eles têm ação no nível físico porque criam tempo para suas atividades físicas, fazem cursinhos casam e se dão em casamento, fazem faculdade vão a acampamentos de férias, no nível físico não falta tempo, mas no nível espiritual, dizem não ter tempo. Mas não é falta de tempo, é falta ação. O motivo é que eles estão mortos espiritualmente.

III. Mortos não reagem ao amor. Primeiramente, ao amor de Deus, mortos não podem reagir ao amor de Deus. O texto diz que Jesus chorou, quando chegou a sepultura de Lazaro, ele o amava. Mas Lázaro não reagiu ao seu amor, suas lagrimas não o levantou, seu amor não o ergueu, simplesmente porque mortos não reagem ao amor de Deus.
É por isso que nós pregamos a cruz; falamos que alguém veio a este mundo e morreu por amor. Levou sobre si as nossas dores, a nossa vergonha. A angustia do homem que já experimentou de tudo e não conseguiu satisfação, absorveu as lepras as AIDS, as dores de todos os homens. Pagou o preço do meu resgate do inferno. A historia convergiu para ele.

IV. Mortos precisam ter um encontro com Jesus. Mortos precisam de ressurreição. A resposta de Jesus aos mortos espirituais é: Eu sou a ressurreição e a vida. Mortos precisam de vida. Mortos precisam de salvação, precisam sair do pó. Não é uma ressurreição sem fonte que acontece por acaso. É uma ressurreição que tem objetivo, uma fonte, uma origem, uma pessoa, alguém de onde ele emana. “eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra vivera”. Jesus se comoveu com a situação de Lázaro, ele se comove quando vê o homem morto espiritualmente. Jesus se comove diante de um homem que esta como eu estava ou como você está, morto espiritualmente. O texto diz que Jesus chora por causa do homem morto porque Jesus o ama a ponto de dar a sua própria vida por ele. Jesus andou em direção ao morto e mandou que retirasse a pedra do tumulo. Há tantos sepulcros andantes em nossas ruas; tantos espíritos sepultados em corpos ambulantes, equal a entrada para sua interioridade? É o seu coração. Tire dele a pedra, a pedra do preconceito religioso. Você diz: eu não nasci nesta religião; tenho que morrer na minha! Mas eu estou convidando a vir a Jesus que da a você a vida espiritual. É preciso tirar a pedra do preconceito; de certos pecados que estão tapando, bloqueando o seu coração. A pedra da indiferença, da incredulidade, a pedra da carnalidade, da vaidade exagerada e da ambição. Tire a pedra! E escute Jesus te chamando para a vida eterna. Levante-se e desperte do sono espiritual, ouça Jesus a te convocar a sair da morte espiritual, como Lázaro você também pode ser ressuscitado por Jesus, venha seguir os passos de Jesus e ser feliz por toda a eternidade.

Conclusão: quando a luz de Jesus começar a entrar nessa caverna escura que é a sua alma, quando a voz de Jesus o despertar, ponha-se de pé: venha para fora! É a vida que te chama. Quem for ressuscitado por Jesus recebe a vida eterna. O ressuscitado necessita de viver livre, e foi para a liberdade que Cristo ti libertou. Ele convoca você para á salvação, para á liberdade, vá a Jesus hoje mesmo por meio da fé! Ele o convida para andar com ele, como Lázaro fez. Venha para fora!