domingo, 27 de novembro de 2011

A Igreja precisa manter-se simples

A Igreja precisa manter-se simples
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. 44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. 45 Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. 46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. Atos 2.42-47

Ao afirmarmos que a Igreja mantinha-se simples não estamos dizendo que a igreja primitiva era uma igreja pobre, ou uma igreja não sofisticada, mas uma igreja que vivia em conformidade com a essência da fé cristã. Note que existem seis declarações nesse versículo que expressam as atividades da Igreja Primitiva:

Doutrina dos Apóstolos

O primeiro ponto a ser ressaltado é a Doutrina dos Apóstolos. O que Lucas quer dizer com “perseveravam na doutrina dos apóstolos” é que a Igreja Primitiva mantinha-se firmada na instrução dos apóstolos. A idéia expressa pelo verbete “perseverar” é dar constante atenção a alguma coisa. Ou seja, a Igreja Primitiva mantinha-se constantemente alicerçada pelo ensino apostólico.

É importante ressaltar que até este ponto da história a doutrina da igreja primitiva podia ser resumida pelo v.36 do mesmo capítulo: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. Contudo, é digno de nota que todos os apóstolos tinham sido instruídos por Cristo, e por certo podiam repassar aquilo que haviam aprendido. Aliás, a expressão grega referente a “doutrina dos apóstolos” sugere que tal instrução seja procedente dos apóstolos. Ou seja, o ensino da igreja é mantido por aqueles que tem autoridade e capacidade para tal tarefa.

Comunhão

Lucas não poderia estar equivocado quando utilizou o vocábulo “comunhão” quando se referiu à Igreja Primitiva. A descrição subseqüente, esplanada no tópico sobre unidade da igreja, expõe de forma muito clara as considerações dessa igreja. Assim, deve-se ressaltar que os primeiros cristãos “eram perseverantes (…) na comunhão”. E como foi anteriormente ressaltado, isso implica em dizer que eles eram fundamentados na experiência comum do corpo. Assim, como os outros pontos ressaltados por Lucas, a comunhão era essência da vitalidade da Igreja.

Partir do Pão

A expressão “partir do pão” não diz respeito a uma refeição típica da época, e que os cristãos mantinham-se comendo apenas pão, mas a expressão diz respeito à prática da Ceia do Senhor. O termo grego equivalente a partir em português é apenas utilizado no NT em referência à ceia. Alias. É digno de nota que o termo (the klasei tou artou) é apenas utilizado duas vezes no NT, ambas feitas por Lucas, e é de uso restrito à ceia. O uso da expressão é quase que um pleonasmo, visto que klasei (partir) só é aplicado a artou (pão). Segue-se que, com absoluta certeza, a igreja primitiva mantinha-se firmada constantemente no memorial da morte de Cristo.

Orações

As orações tinham um papel fundamental na vida da Igreja Primitiva. Isso pode ser claramente percebido pelo relado deixado por Lucas, que diversas vezes considera as orações dos primeiros cristãos. Em Atos podemos ver que a oração foi a atitude dos cristãos diante das decisões a serem tomadas (1.14), a atitude da liderança da igreja em situação de crescimento (6.4) e a prática da igreja quando estava em situação de perigo e perseguição (12.5).

Louvor

Esta é uma das poucas referências encontradas em Atos que descreve essa atitude dos cristãos. Isso, no entanto, não quer dizer que os primeiros cristãos não adoravam a Deus, mas que suas reuniões estavam mais voltadas para a instrução, a oração e a comunhão. Contudo, devemos notar que todos os outros fatos ocorriam enquanto os cristãos louvavam a Deus . Ou seja, embora sejam poucas as referências era uma atividade que estava intimamente ligada a expressão de adoração da igreja. Entretanto, não podemos afirmar com certeza se isso acontecia por meio da música, embora possa ser muito bem expressa por ela.

Evangelismo

No mesmo versículo podemos perceber, ainda que um pouco escondido, a atividade evangelizadora da Igreja Primitiva. Note: “e dia-a-dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos”. Por mais que a atividade esteja centralizada na atividade divina na salvação, sabe-se que “aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (1Co.1.21). Portanto, não se pode negar que o evangelismo era parte integral da vida da igreja primitiva, sendo que isto acontecia diariamente. Segue-se, então, que a proclamação da verdade, o kerigma na Igreja Primitiva era parte essencial da vitalidade da Igreja de Cristo, assim como todos os elementos já mencionados.

A conclusão que devemos chegar aqui é que estes quatro elementos são essenciais na prática e na experiência da Igreja de Cristo. Portanto, a igreja local que não viabiliza a execução desses pontos não pode ser considerada uma igreja saudável.

Fonte: [ NAPEC - Apologética Cristã ]

domingo, 20 de novembro de 2011

PROGRAMA EDUCARTE EM CRISTO


PROPÓSITO: Fechar a porta para os problemas indesejados: O aborto, a prostituição, e todos os comportamentos contrários as LEIS DE DEUS. E resgatar os valores familiares e sociais.
O mundo foi FORMADO por DEUS (Doutrina da Criação). O mundo foi DEFORMADO pelo pecado (Doutrina da Queda). O mundo deve ser REFORMADO para a Glória de DEUS (Doutrina da Restauração e Redenção).
VISÃO:
- Construir uma Cultura Reformada e Cristã na Pluralidade Democrática.
Promover a transformação de vidas. Para isso, baseamos nossas ações na palavra de Deus. E assim cumprindo o IDE de Jesus Cristo ajudando ao Próximo.
MISSÃO:

- Formar Pessoas para influenciar em seus ambientes: familiar, profissional e educacional a partir de uma filosofia calvinista participativa.
Ação Social nas Escolas: (Linha de Ação)
Esse programa caracteriza-se em assessorar a escolas que tem em sua grade curricular o ensino religioso. Seu objetivo é criar ações que possibilitem o contato da comunidade escolar com a Bíblia, favorecendo o resgate de valores éticos e espirituais entre crianças adolescentes e seus familiares.

- Formar Profissionais e Líderes para influenciar o mercado: educacional, empresarial e político. Tratando dos mais diversos assuntos do interesse da população, procurando sempre esclarecer as duvidas existentes sobre as realidades existenciais dos desacertos sociais.
Inclusão do deficiente visual: (Linhas de Ação)
Esse programa contribui com o processo de inclusão, desenvolvimento cultural e amparo espiritual do deficiente visual. Busca ampliar a oferta de literatura Bíblica para esse segmento da população no formato de áudio.
Ação social pela paz: (Linha de Ação)
Baseado em ações preventivas, esse programa visa combater as causas da violência nas escolas. É voltado também a dependentes químicos e famílias em situação de risco social.
Princípios de Fé - Adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento sempre colocando Jesus Cristo como o centro de nossas vidas. - Sustenta como fiel sistema expositivo de doutrina as Confissões Reformadas; Sustenta a suficiência, infalibilidade e autoridade das Escrituras (Sola Scriptura), a supremacia da graça (Sola Gratia), e a efetividade da fé em Cristo (Sola Fide);
O programa “EDUCARTE EM CRISTO” nasce com o objetivo de semear esperança através da prática de soluções que contribuam para sensibilizar a comunidade cristã da cidade de falar sobre a importância de
bons tratos ao nosso próximo. Nosso desejo é que esta iniciativa seja prática e simples, a fim de ter uma melhor aceitação e um alcance mais abrangente.

O século XXI mostra que a religião tem importância global e que é preciso considerá-la em toda analise de assuntos globais. A liderança exige especialistas que possam olhar com profundidade para as leis de Deus. A maior necessidade de nossos dias é a da fé!
Através do Esporte estamos ajudando a jovens e adolescentes a se achegarem a igreja, na igreja aplicamos um curso Bíblico que tem como objetivo Educar esses jovens, numa perspectiva Cristã Reformada! Se você quiser ajudar de alguma maneira entre em contato conosco pelo Email: jbsolagratia@hotmail.com Que Deus nos abençoe!!!!
Pb. João Batista de Lima
"A igreja deve atrair pela
diferença e não pela igualdade".
C.H. Spurgeon
Faça parte desta história! Seja um parceiro e contribua para transformação de jovens através deste programa!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Primeiro elemento constitutivo do culto público: Pregação a partir da Bíblia

Primeiro elemento constitutivo do culto público:
Pregação a partir da Bíblia -

O primeiro elemento constitutivo do culto público, a saber, a pregação a partir da Bíblia. Sei que pode soar um tanto quanto "óbvio" o fato de dizermos que dentro de uma igreja que se diz cristã ser necessário que se pregue a palavra de Cristo - o seu mestre -, mas é necessário que tenhamos em mente que o mero reunir-se em uma igreja que se intitula "evangélica", não caracteriza verdadeira fidelidade à revelação (a Bíblia Sagrada) que Deus nos deixou e por isso que precisamos compreender algumas implicações que deve ter o pregar a partir da Bíblia.

Há tempos ouvi um pastor falando que conhecia um pregador que era conhecido como "o pastor engraçado" (ou "pastor piadista", algo assim), pois suas "pregações" eram sempre muito engraçadas, cheias de comédia e as vezes os ouvintes até mesmo urinavam de tanto rir durante as "pregações". Pensei por um breve momento que aquele pastor iria repudiar tal atitude de seu conhecido, mas não o fez; pelo contrário, aprovou e disse que não havia nada de errado com se ter uma pregação engraçada e que entretenha as pessoas.

"E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3:1-6). Nesta passagem - humanamente falando -, Jesus tem uma excelente oportunidade para pregar a Sua própria mensagem àquele homem que era o príncipe dos judeus, porém Ele não o faz. Jesus não respondeu a Nicodemos de forma engraçada ou suavizou Sua mensagem. Quando Nicodemos questiona Jesus sobre como seria possível alguém nascer de novo (v. 9), Jesus simplesmente lhe responde: "Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? (Jo 3:10). O que Jesus quis dizer àquele homem era: "Tu que és mestre de Israel e príncipe dos judeus, que ensinas e te vanglorias de teu conhecimento, não conheces o princípio mais básico sobre a mensagem que dizes viver?". Em momento algum vemos Jesus suavizando ou "divertindo" sua mensagem.

Em outra situação, Jesus ao combater o ensino dos fariseus sobre a necessidade de se lavar as mãos antes de comer (coisa que a lei veterotestamentária não havia imposto) e dizer que o que entra pela boca não é o que contamina, mas o que sai, é indagado por seus discípulos que questionam: "Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram?" (Mt 15:12). Vemos então a resposta do mestre: "Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada. Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova" (Mt 15:13-14). Aqui, novamente, não encontramos nenhum resquício de Jesus amenizando a mensagem, mas sim pregando-a com amor, contudo, energicamente e sem jamais renunciar a Verdade.

Ainda outra narrativa nos mostra como Jesus respondeu ao povo que foi até ele apenas para saciarem-se com pães: "E, achando-o no outro lado do mar, disseram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui? Jesus respondeu-lhes, e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou" (Jo 6:25-27). Neste ponto, mais uma vez percebemos que Jesus não adulterou a mensagem para que todo aquele povo continuasse a segui-Lo (do ponto de vista humano, que grande oportunidade desperdiçada!), mas condenou o erro e apontou para solução, isto é, que não se trabalhasse pela comida passageira, mas pela verdadeira comida, isto é, a palavra de Deus que nos supre para sempre.

De igual modo, quando o apóstolo Paulo está escrevendo ao seu amado Timóteo, ele insta-o para: "Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina" (2Tm 4.2). As cartas de Paulo são cheias de admoestações e instruções para seus queridos e para as igrejas que ele visitou ou visitaria, contudo não encontramos nenhuma exortação paulina para que os crentes "se divertissem" durante a pregação. Escrevendo a Timóteo, Paulo lhe diz para que pregasse a palavra, redarguisse, repreendesse e exortasse com toda longanimidade e doutrina. Pergunto: onde que encontramos base para termos uma pregação divertida? Respondo: em lugar algum.

O Catecismo Maior de Westminster nos dá diretrizes de como deve ser pregada a palavra de Deus:

Pergunta 159: “Como deve ser pregada a Palavra de Deus por aqueles que para isso são chamados? Resposta: Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a sã doutrina (Tt 2.1, 7, 8), diligentemente, em tempo e fora de tempo (At 18.25; II Tm 4.2); claramente (I Co 14.9), não em palavras persuasivas de humana sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder (I Co 2.4); fielmente (Jr 23. 28; I Co 4. 1, 2), tornando conhecido todo o conselho de Deus (At 20.27), sabiamente (Cl 1.28; II Tm 2.15) acomodando-se às necessidades e às capacidades dos ouvintes (I Co 3.2; Hb 5.12-14; I Ts 2.7; Lc 12.42) zelosamente (At 18.15; II Tm 4.5), com amor fervoroso para com Deus (II Co 5.13, 14; Fp 1.15-17) e para com as almas do seu povo (II Co 12.15; I Ts 3.12); sinceramente (II Co 4. 2; II Co 2. 17), tendo por alvo a gloria de Deus (Jo 7.18; I Ts 2. 4-6) e procurando converter (I Co 9.19-22), edificar (II Co 12.19; Ef 4.12) e salvar as almas (I Tm 4.16; II Tm 2.10; At 16.16-18)”. Diante dessas diretrizes elaboradas por homens piedosos, percebemos que em momento alguns eles sugerem que a palavra de Deus deva ser pregada com irreverência, pouca importância ou ainda que ela deva ser "divertida" e rápida.

Mas afinal, por quê é necessário que preguemos somente a palavra de Deus? Deixem-me listar 3 motivos (baseados em 2 Tm 3.16,17) pelos quais tão somente a palavra de Deus deve ser pregada e deva ser o centro do culto ao Senhor:

1. Somente a Escritura é divinamente inspirada por Deus - "Toda a Escritura é divinamente inspirada (2 Tm 3:16a).

Procuraremos em vão pelo restante das Escrituras em busca de alguma sentença que nos indique que algum outro escrito tenha sido escrito e inspirado pelo Senhor. Certamente que nos vem à mente a questão sobre os livros apócrifos e os pseudo-epígrafos, mas sobre eles falaremos em outra oportunidade [1]. Contudo, precisamos ter a certeza de que o livro que temos em mãos foi divinamente inspirado - mas que implicação isso tem?

Implica em dizer que, apesar de ter sido escritos por homens, estes foram inspirados pelo Senhor, isto é, "homens santos de Deus falaram [e aqui acrescento: escreveram] inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pe 1:21). Dizer que a Escritura é divinamente inspirada, é afirmar que ela é perfeita, pura, e destituída de qualquer pecado ou invenção humana. Mas o que as Escrituras nos ensinam? O Breve Catecismo de Westminster nos auxilia nessa questão.

Pergunta 3. "Qual é a coisa principal que as Escrituras nos ensinam?" Resposta: "A coisa principal que as Escrituras nos ensinam é o que o homem deve crer a respeito de Deus, bem como o dever que Deus requer do homem" (Mq 6.8; Jo 20.31; Jo 3.16).

Vemos que por ser inspirada, a palavra de Deus não necessita de acréscimo humanos ou de "benfeitorias necessárias", como se partes da revelação divina estivessem caducadas pelo tempo ou ainda que não sejam coerentes com o "tempo em que vivemos". Por divina, o Senhor quer dizer-nos que ela é fidedigna, isto é, que merece crédito, que tem procedência, pois emana do Pai celestial, o criador dos céus e da terra. "Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" (Tg 1:17 - grifo meu). Se Deus é imutável, logo a Sua palavra também será imutável. Não haveria lógica em Deus dispor-nos de uma revelação para seguirmos (a Bíblia) e após morrermos recebermos o veredicto de que na verdade o Senhor "mudou de opinião" e agora executará a Sua justiça a partir de algo que nenhum humano jamais conheceu, e que por isso, todos estarão condenados.

Se o Senhor não pode mudar e inspirou toda a Sua palavra aos homens, aprendemos que temos uma revelação inspirada por Ele e que jamais poderá substituída, quer seja por filosofias ou qualquer outra "boa ideia" sugerida por vis pecadores.

2. Somente a Escritura pode nos ensinar, responder, corrigir e instruir em justiça - "e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça" (2 Tm 3:16b).

É importante atentarmos para o fato de que se a palavra de Deus foi inspirada por Ele mesmo, naturalmente decorre de que as Escrituras são suficientes para instruir e guiar o homem em sua peregrinação pela terra.

Muitos homens têm proclamado essa verdade em suas conversas, pregações e livros publicados, contudo tais palavras apenas "têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne" (Cl 2.23). Como vemos nos jornais e nas revistas, está "na moda" ser evangélico e crer numa entidade superior. O "evangelicalismo" está em alta, muitas editoras "evangélicas" estão com suas produções aquecidas, as livrarias "cristãs" proliferam com grande rapidez - mas será esse um marco da verdadeira vida cristã e de um avivamento genuíno? Creio que não.

Quando a palavra de Deus nos diz que ela é útil "para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça", isso necessariamente deve-se traduzir em boa piedade cristã, isto é, boa doutrina aliada à prática - e nesse ponto, os puritanos eram majestosos. Eles concordavam com o Catecismo Maior de Westminster que diz:

Pergunta 01: “Qual é o fim supremo e principal do homem? Resposta: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus (Rm 11.36; I Co 10.31) e gozá-lo para sempre”(Sl 73.24- 26; Jo 17.22- 24).

Mas como isso se traduz na vida prática? Para Thomas Watson (puritano que viveu entre 1620 e 1686), essa resposta do catecismo tinha duas finalidades específicas para a vida: a glorificação de Deus e a satisfação em Deus [2]. "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém" (1 Pe 4:11 - grifo meu).

Não há nenhum outro documento, livro, pensamento ou filosofia que esteja apto a ensinar o homem cristão sobre quem é Deus e o que o Senhor requer de Seus filhos, exceto a Bíblia. A suficiência das Escrituras nos mostram que pautar-se pelo estrito ensinamento bíblico é o melhor caminho a se seguir.

3. Somente a Escritura pode nos tornar perfeitos e aptos para a obra do Senhor - "Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2 Tm 3:17).

A finalização dessa breve sentença de Paulo (versículos 16 e 17) é quase que uma obviedade devido a construção que ele faz, contudo parece ser extremamente obscura para muitos professos da fé cristã.

Muitos "evangélicos" concordariam com nosso primeiro ponto que diz que "toda a Escritura é divinamente inspirada". Também estariam de acordo de que ela é "proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça", porém, quando suas vidas são analisadas à luz dessa Escritura que é proveitosa para instruir em todo o conhecimento de Deus, percebemos que o círculo não completa o seu ciclo, isto é, embora professem crer na inspiração da Escritura e digam que ela é proveitosa para suas vidas, isso não se manifesta em suas obras e em seu caráter que deveria ser de um crente em Cristo Jesus. Em muitos casos a Palavra de Deus parece ser suficientemente clara, a ponto de ninguém poder escusar-se da responsabilidade que tem de seguir os princípios bíblicos ali expostos - e creio que esse seja um desses casos.

Observemos que Paulo finaliza o seu argumento dizendo que a implicação prática de toda a Escritura ser divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, é "Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra". Mas diferentemente do que muitos homens afirmaram - como John Wesley, Charles Finney e outros -, não se pode atingir a perfeição moral (isto é, boas obras e um viver digno perante a sociedade) e nem tampouco a perfeição teológica nessa vida (que naturalmente leva à uma boa prática cristã).

Paulo instrui a Timóteo dizendo que a Escritura é suficiente "Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (grifo meu). Note que em momento algum das Escrituras (em todos os 66 livros da Bíblia) nos é dito que o homem convertido deixa de pecar quando torna-se crente, contudo, nos diz que no tocante à sua vida pós conversão, esse homem passa a ter um parâmetro perfeito para sua vida, a saber, as Escrituras. Isto é, se o homem regenerado não passa a pautar-se pelas Escrituras, grandes são as dúvidas de que tal homem foi verdadeiramente transformado - "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8:9).
A finalidade das Escrituras é nos fazer "perfeitamente instruído(s) para toda a boa obra", ou seja, se desejamos ter um andar cristão, um pensar cristão, um viver cristão, precisamos sem demora nos banharmos nas águas santas e profundas das Escrituras. "Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito" (Tg 1:23-25).
Amém.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Por Que Não Aceito os Evangelhos Apócrifos

Por Que Não Aceito os Evangelhos Apócrifos
.Por Augustus Nicodemus Lopes

Vamos iniciar perguntando o que é um “evangelho”. O termo é a tradução da palavra grega euaggelion, “boas novas”, usada a princípio para se referir ao conteúdo da mensagem de Jesus Cristo e dos seus apóstolos. Posteriormente, a palavra veio se referir a um gênero literário específico que nasceu com o Cristianismo no séc. I. Lembremos que o Cristianismo, em termos culturais, ocasionou o surgimento, não somente de novas músicas, mas também de gêneros literários como epístolas e evangelhos.

Esse novo gênero literário tinha algumas características distintas. Incluía obras escritas entre o séc. I e o séc. IV por autores cristãos que giravam em torno da pessoa de Cristo, sua obra e seus ensinamentos. Essas obras reivindicam autoria apostólica ou de alguma outra personagem conhecida da tradição cristã. Reivindicavam também que seu conteúdo remontava ao próprio Jesus.

Existem centenas de “evangelhos” conhecidos. Alguns são apenas mencionados na literatura dos Pais da Igreja e deles não temos qualquer amostra do conteúdo. Outros sobreviveram em fragmentos ou reproduzidos em parte em outras obras, como, por exemplo:
• Evangelho dos Hebreus
• Evangelho dos Ebionitas (ou dos Doze Apóstolos)
• Evangelho dos Egípcios
• Evangelho Desconhecido
• Evangelho de Pedro, para mencionar alguns.

Já outros, sobreviveram em cópias completas ou quase, como:
• Os Evangelhos canônicos de Mateus, de Marcos, Lucas e de João,
• Evangelho de Tomé
• Evangelho de Judas
• Evangelho de Nicodemus
• Proto-Evangelho de Tiago
• Evangelho de Tomé o Israelita
• Livro da Infância do Salvador
• História de José, o Carpinteiro
• Evangelho Árabe da Infância
• História de José e Asenate
• Evangelho Pseudo-Mateus da Infância
• Descida de Cristo ao Inferno
• Evangelho de Bartolomeu
• Evangelho de Valentino, entre outros.
Esses evangelhos são tradicionalmente classificados em canônicos e apócrifos.

Evangelhos Canônicos

Nessa primeira categoria se enquadram somente 4 evangelhos, os Sinóticos e João. Conforme a tradição patrística e da Igreja em geral, eles foram escritos no séc. I pelos apóstolos de Jesus Cristo ou alguém do círculo apostólico. Marcos teria sido o primeiro a ser escrito, no início da década de 60, por João Marcos, que segundo a tradição, registrou o testemunho ocular de Simão Pedro. Ele escreveu aos cristãos de Roma para ajudá-los e fortalecê-los diante das perseguições.

Mateus teria sido escrito em meados da década de 60 por Mateus, o publicano apóstolo, para evangelizar os judeus, a partir do seu testemunho ocular e usando talvez o Evangelho de Marcos como base para a estrutura da narrativa.

Lucas, escrito pelo médico gentio Lucas, convertido ao Cristianismo, que foi companheiro de viagem de Paulo e que freqüentava o círculo apostólico, teria produzido esse evangelho pelo final da década de 60, a partir de pesquisa que fez da tradição oral e escrita que remontava aos próprios apóstolos. Seu objetivo, conforme declaração no início da obra Lucas-Atos, era firmar na fé um nobre romano chamado Teófilo.

Já o Evangelho de João teria sido escrito pelo apóstolo amado por volta da década de 70 ou 80, com aparentemente vários objetivos, entre eles combater o crescimento do gnosticismo. João escreve a partir de seu testemunho ocular, a partir do seu entendimento acerca da pessoa e da obra de Cristo.

Esses 4 evangelhos cedo foram reconhecidos pela Igreja cristã nascente como inspirados por Deus e autoritativos, como Escritura Sagrada, visto que seus autores foram apóstolos, a quem Jesus havia prometido o Espírito Santo para os guiar em toda a verdade (Mateus e João), ou alguém proximamente relacionado com eles (Lucas e Marcos). Assim, eles aparecerem em listas importantes dos livros recebidos como canônicos pela igreja, como o Cânon Muratório (170 d.C.), a lista de Eusébio de Cesareia (260-340) e a lista de Atanásio (367).

Os demais evangelhos, chamados de apócrifos, implicitamente reconhecem a validade do critério canônico da apostolicidade, ao reivindicar para si também a autoria apostólica e o conhecimento de segredos que não foram revelados aos apóstolos.

Evangelhos Apócrifos

O nome vem do grego apocryphon, “oculto”, “difícil de entender”. Esses evangelhos são geralmente classificados em narrativas da infância de Jesus, narrativas da vida e da paixão de Jesus, coleção de ditos de Jesus e diálogos de Jesus.

As narrativas da infância mais conhecida são o Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho de Tomé o Israelita, o Livro da Infância do Salvador, a História de José, o Carpinteiro, o Evangelho Árabe da Infância, a história de José e Asenate e o Evangelho Pseudo-Mateus da Infância. Entre as narrativas da vida ou paixão de Cristo mais importantes se destacam o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Nicodemus, o Evangelho dos Nazarenos, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho de Gamaliel.

Existem apenas dois que se enquadram na categoria de coleção de ditos de Jesus, o Evangelho de Tomé e o suposto documento Q (quelle, “fonte” em alemão), do qual não se tem prova concreta da existência. Na categoria de diálogos de Jesus com outras pessoas e revelações que ele fez em secreto mencionamos o Diálogo com o Salvador e o Evangelho de Bartolomeu.

Essas obras são chamadas de evangelhos apócrifos por que não são considerados como obras genuínas, produzidas pelos apóstolos ou pelos supostos autores. Além disso, pretendem transmitir um conhecimento esotérico, oculto, além daquele conhecimento dos apóstolos. Em grande parte, esses evangelhos foram escritos por autores gnósticos com o propósito de difundirem as suas idéias no meio da igreja, usando para isso a autoridade dos evangelhos canônicos e dos apóstolos. Alguns deles foram encontrados século passado em Nag Hammadi, norte do Egito.

O Proto-evangelho de Tiago, por exemplo, escrito no século II, que descreve o nascimento e a infância de Jesus e a juventude da Virgem Maria, é tipicamente uma tentativa de satisfazer à curiosidade popular em torno de coisas não mencionadas nos evangelhos canônicos. A teologia desse "evangelho" é a de um docetismo popular: Jesus tem um corpo não sujeito às leis do espaço e do tempo. O escrito não tem valor como fonte histórica sobre Jesus.

Outro exemplo é o Evangelho da Verdade. Esse não é um evangelho no sentido costumeiro da palavra; é antes uma meditação, uma espécie de sermão sobre a redenção pelo conhecimento (gnosis) de Deus. É atribuído ao gnóstico Valentino, que viveu em meados do século II e por conseguinte, não ajuda em nada a pesquisa sobre o Jesus histórico. Na mesma linha vai o Evangelho de Filipe, escrito antes de 350. É, evidentemente, uma compilação de materiais mais antigos. O texto causou certo sensacionalismo quando da sua publicação, porque sugere uma relação amorosa entre Jesus e Maria Madalena. O Evangelho de Pedro – um fragmento que se conservou – descreve o processo contra Jesus, sua execução e sua ressurreição. Sua cristologia é a do docetismo: aquele que sofre e morre é apenas uma aparição do verdadeiro Jesus, que é divino e por isso não pode sofrer e morrer. Conforme esse evangelho, o corpo de Jesus se volatiliza na cruz antes de subir ao céu.

É preciso dizer que existem vários destes evangelhos apócrifos que foram compostos por autores cristãos desconhecidos, não gnósticos, e que aparentam refletir um tipo de cristianismo popular marginal. A maior parte deles pretende suprir a falta de informação histórica nos evangelhos canônicos, fornecendo detalhes sobre a infância de Jesus, diálogos dele com os apóstolos, informações sobre Maria e demais personagens que aparecem nos evangelhos tradicionais. Em alguns casos, parece que foram escritos para defender doutrinas não apostólicas e que estavam começando a ganhar corpo dentro do Cristianismo, como por exemplo, o conceito de que Maria é mãe de Deus e medianeira. O Proto-Evangelho de Tiago, já do séc. III, explica porque Maria foi a escolhida: por sua virgindade e santidade, e a defende como mãe de Deus e medianeira.

Alguns contém exemplos morais não recomendáveis. Por exemplo, o Evangelho de Tomé, o Israelita, narra diversos episódios em que o menino Jesus amaldiçoa e mata quem fica em seu caminho. Quase todos são recheados de histórias lendárias e bobas, como o Evangelho de Nicodemus, que narra como José de Arimatéia, Nicodemus e os guardas do sepulcro se tornaram testemunhas da ressurreição de Jesus. É um livro cheio de lendas, fantasias e histórias fantásticas.

Os evangelhos apócrifos usaram diversas fontes em sua composição: o Antigo Testamento, os próprios evangelhos canônicos e as cartas de Paulo. Usaram também tradições cristãs extra-canônicas, de origem desconhecida e suas próprias idéias e conceitos.

A Atitude da Igreja para com os Evangelhos Apócrifos

No período pós-apostólico alguns desses Evangelhos chegaram a ser recebidos por um tempo, como leitura proveitosa, como o Evangelho de Pedro, a princípio recomendado por Serapião, bispo de Antioquia em 191 d.C., mas depois, ele mesmo reconhece que ele tem elementos estranhos e o desrecomenda. Assim, nenhum deles jamais foi reconhecido como autêntico e apostólico.

Desde cedo a Igreja Cristã rejeitou estas obras, pois não preenchiam o critério de canonicidade: não foram escritas pelos apóstolos ou por alguém ligado a eles, contradiziam a doutrina cristã, tinham exemplos e recomendações morais e éticas pouco recomendáveis, e seus autores falsamente atribuíram a autoria aos apóstolos, como por exemplo, o Evangelho de Tomé, de Pedro, de Bartolomeu, de Filipe. Além do mais, suas histórias fantásticas acerca de Cristo claramente revelavam seu caráter especulativo e supersticioso, ao contrário da sobriedade e da seriedade dos evangelhos bíblicos. Não é de admirar, portanto, que eles não aparecem em nenhuma das listas canônicas, onde os 4 evangelhos canônicos aparecem.

Aqui cabe-nos mencionar o testemunho de Eusébio em sua História Eclesiástica, ao falar do Evangelho de Pedro, Tomé e Matias:
"Nenhum desses livros tem sido considerado digno de menção em qualquer obra de membros de gerações sucessivas de homens da Igreja. A fraseologia deles difere daquela dos apóstolos; e opinião e a tendência de seu conteúdo são muito dissonantes da verdadeira ortodoxia e claramente mostram que são falsificações de heréticos. Por essa razão, esse grupo de escritos não deve ser considerado entre os livros classificados como não autênticos, mas deveriam ser totalmente rejeitados como obras ímpias".
Essa postura prevaleceu até a Reforma Protestante e o período posterior chamado de ortodoxia protestante. Com a chegada do método histórico-crítico, filho do Iluminismo e do racionalismo, passou-se a negar a autoria apostólica e a inspiração divina dos Evangelhos canônicos. Os mesmos passaram a ser vistos como produção da fé da Igreja, sem valor real para a reconstrução do Jesus histórico. Dessa perspectiva, os evangelhos apócrifos chegaram então a ser considerados como literatura tão válida como os canônicos para nos dar informações sobre o Cristianismo nascente, embora não sobre o Jesus histórico.

O renascimento do interesse pelos evangelhos apócrifos, em particular, os gnósticos.

A partir da visão crítica defendida pelo liberalismo teológico e pelo método histórico-crítico, em anos recentes os evangelhos escritos pelos gnósticos passaram a receber grande atenção e importância nos estudos neotestamentários das origens do Cristianismo e na chamada busca do Jesus histórico.

Vários fatos têm contribuído para isso. Primeiro, o surgimento do Jesus Seminar nos Estados Unidos, considerada a 3ª. etapa da busca do Jesus histórico iniciada pelos liberais do século XVIII. Um de seus membros mais conhecidos, cujas obras têm sido traduzidas e publicadas no Brasil é John Dominic Crossan. Em sua obra O Jesus Histórico: A vida de um camponês judeu do mediterrâneo de 1991, ele emprega os apócrifos Evangelho de Pedro e especialmente o Evangelho de Tomé para a reconstrução do Jesus histórico. Segundo Crossan, essas duas obras são mais antigas que os Evangelhos canônicos e contém informações importantes que não foram incluídas em Mateus, Marcos, Lucas e João. Essa atitude de Crossan é característica dos demais membros do Jesus Seminar e de muitos outros eruditos neotestamentários, que aceitam a autoridade dos evangelhos apócrifos, especialmente os gnósticos, acima daquela dos canônicos. Aqui podemos mencionar Elaine Pagels, cuja obra Os Evangelhos Gnósticos, recentemente traduzida e publicada em português, vai nessa mesma direção.

Segundo, a publicidade e o sensacionalismo da grande mídia em torno da descoberta e publicação dos textos dos evangelhos gnósticos, como o Evangelho de Judas e de Tomé. A mídia tem difundido a teoria de que a Igreja cristã teria ocultado e guarda até hoje outros evangelhos que remontam à época de Jesus e que contradiriam e refutariam totalmente o Cristianismo tradicional e ortodoxo. A veiculação pela mídia vai na mesma linha de propaganda e especulações anticristãs voltadas mais diretamente contra a Igreja Católica Romana e que acaba respingando nos protestantes, especialmente as igrejas históricas. Em 2004 foi o Evangelho de Tomé. Em 2006 foi a vez do Evangelho de Judas ganhar a capa de revistas populares pretensamente científicas. A ignorância dos articulistas, o preconceito anticristão, a busca do sensacionalismo, tudo isso contribuiu para que a publicação do manuscrito copta do Evangelho de Judas recebesse uma atenção muito maior do que a devida. Em 2007 foi a suposta sepultura de Jesus, uma inscrição antiga contendo o nome de Tiago, irmão de Jesus, e outras “descobertas” arqueológicas, fizeram a festa da mídia em anos mais recentes.

Não se deve pensar que essa atitude é um fenômeno atual. Desde os primórdios do Cristianismo, escritores pagãos como Celso e Amiano Marcelino publicam material atacando as Escrituras e o Cristianismo. Estou acostumado a assistir, anos a fio, a exploração sensacionalista dessas descobertas. Quando da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e das polêmicas e questões inclusive legais que envolveram a tradução e a publicação dos primeiros rolos, a imprensa da época especulava que os Manuscritos representariam o fim do Cristianismo, pois traria informações que contradiriam completamente o Evangelho. Os anos se passaram e verificou-se a precipitação da imprensa. Os rolos na verdade tiveram o efeito contrário, confirmando a integridade e autenticidade do texto massorético do Antigo Testamento.

Terceiro, produções de Hollywood como “O Código da Vinci”, “O Corpo”, “Estigmata”, “A última Ceia de Cristo” que se baseiam nesses evangelhos gnósticos têm servido para difundi-los popularmente.

O Evangelho de Judas

Examinemos mais de perto os dois evangelhos gnósticos que têm atraído recentemente a atenção da academia e do público em geral, que são os evangelhos de Judas e de Tomé.

O Evangelho de Judas preservou-se em um manuscrito copta do século IV, que supostamente conteria uma tradução do evangelho apócrifo grego de Judas, cuja origem é estimada em meados do século II. A restauração e a tradução do manuscrito copta foram anunciados em 6 de abril de 2006, pela National Geographic Society em Washington.

Não se trata da descoberta do Evangelho de Judas. O mesmo já é um velho conhecido da Igreja cristã. Elaborado em meados do século II, provavelmente na língua grega, era conhecido de Irineu, um dos pais apostólicos. Na sua obra Contra as Heresias, Irineu o menciona explicitamente, como sendo uma obra espúria produzida pelos gnósticos da seita dos Cainitas. No século V o bispo Epifânio critica o Evangelho de Judas por tornar o traidor em um feitor de boas obras.

Não se trata também da descoberta de um manuscrito antes desconhecido contendo essa obra. Acredita-se que o único manuscrito conhecido, escrito em copta, foi descoberto em meados da década de 1950 e depois de uma longa peregrinação nas mãos de colecionadores, bibliotecas, comerciantes de antiguidades e peritos, chegou às mãos das autoridades. Sua existência foi anunciada ao mundo em 2004. Trata-se de um códice com 25 páginas de papiro, envoltas em couro, das 62 páginas do códice original. Somente essas 25 páginas foram resgatadas pelos especialistas. A tradução que veio a lume em 2006 é dessas páginas.

O que é de fato novo é a tradução do texto desse apócrifo, texto até então desconhecido. Contudo, o ponto central que a mídia tem destacado com sensacionalismo, já era conhecido mediante as citações de Irineu e Epifânio, ou seja, que esse evangelho procura reabilitar Judas da pecha de traidor, transformando-o em vítima e herói.

Várias matérias publicadas na mídia diziam que Judas Iscariotes é o autor desse evangelho. Contudo, não existe prova alguma disso. Segundo o relato dos quatro Evangelhos canônicos, Judas suicidou-se após a traição. Como poderia ser o autor dessa obra? Irineu, no século II, atribuía a autoria do evangelho de Judas aos Cainitas, uma seita gnóstica. No códice descoberto e agora publicado, não consta somente o evangelho atribuído a Judas, mas duas obras a mais: a “Carta a Filipe” atribuída ao apóstolo Pedro e “Revelação de Jacó”, relacionado com o patriarca hebreu. A presença do evangelho de Judas em meio a essas duas obras apócrifas é mais uma prova da autoria espúria desse evangelho. Chega a ser irritante o preconceito da mídia, que sempre veicula matérias que negam a autoria tradicional dos Evangelhos canônicos, mas que rapidamente atribui a Judas Iscariotes a autoria desse apócrifo.

O manuscrito que agora foi traduzido não data do século II, mas do século IV. Especula-se que é uma tradução para o copta de uma obra mais antiga escrita em grego, que por sua vez dataria de meados do século II. Daí a inferir a autoria de Judas Iscariotes, que morreu na primeira parte do século I, vai uma grande distância. A seita dos Cainitas, segundo Irineu em Contra as Heresias, era especialista em reabilitar personagens bíblicas malignas, como Caim, os sodomita e Judas. A produção de um evangelho reabilitando o traidor se encaixa perfeitamente no perfil da seita.

Ao final, pesando todos os fatos e filtrando o sensacionalismo e o preconceito anticristão, a publicação do evangelho de Judas em nada contribuirá para nosso conhecimento do Judas Iscariotes histórico e muito menos do Jesus histórico – servirá apenas para nosso maior conhecimento das crenças gnósticas do século II. Não representa qualquer questionamento sério do relato dos Evangelhos canônicos, cuja autoria e autenticidade são muito mais bem atestadas, datam do século I e receberam reconhecimento e aceitação universal pelos cristãos dos primeiros séculos.

O Evangelho de Tomé

Esse Evangelho consiste numa coleção de 114 ditos que Jesus supostamente teria ditado a seu irmão gêmeo, Tomé. Ele faz parte da livraria gnóstica descoberta em Nag Hammadi em meados do século passado. O que temos é um manuscrito copta, tradução de uma versão em grego desse Evangelho, datada do séc. III. Calcula-se que o evangelho original deve ter sido escrito no séc. II.

Não se trata de um evangelho no sentido usual do termo, visto que não contém qualquer narrativa sobre o nascimento, ministério ou paixão de Cristo. Trata-se de uma coleção de ditos de Jesus sem qualquer moldura geográfica, temporal ou histórica que nos permita localizar quando, onde e em que contexto Jesus os teria pronunciado. Calcula-se que foi escrito na região da Síria, onde existem tradições sobre o apóstolo Tomé e onde se sediava a seita dos encratitas, ascéticos que defendiam uma forma heterodoxa de Cristianismo.

Apesar de trazer muitas citações dos evangelhos canônicos, a teologia do Evangelho de Tomé é abertamente gnóstica. Defende a salvação através do conhecimento secreto e esotérico que Jesus revelou a seu discípulo Tomé. Está eivado das dicotomias e dualismos característicos do pensamento gnóstico mais evoluído do séc. II. Trata-se claramente de uma produção dos mestres gnósticos, que se valeram dos evangelhos canônicos e do nome do apóstolo Tomé para divulgar e espalhar suas crenças.

Como reagimos a tudo isso?

Apesar de todos os esforços da mídia e dos liberais, não se consegue provar que os evangelhos gnósticos foram escritos no primeiro século. Eles são produções posteriores aos canônicos e que se valeram dos canônicos como fontes. O maior argumento dos liberais para provar que o Evangelho de Tomé, contendo ditos de Jesus, foi escrito no séc. I antes dos canônicos depende da existência do suposto proto-Evangelho “Q”, a qual nunca foi provada.

O testemunho dos pais apostólicos é unânime em rejeitar esses evangelhos e atribuí-los a falsificações feitas pelos gnósticos com o propósito de espalhar suas ideais e ensinamentos. O conteúdo deles é distintamente diferente dos evangelhos canônicos e da religião ensinada no Antigo Testamento.

As reconstruções do Jesus histórico feitas pelos que dão prioridades aos apócrifos, especialmente os evangelhos gnósticos, deixam sem explicação o surgimento das tradições escatológicas a respeito dele que hoje encontramos nos Evangelhos canônicos. Nem mesmo a tese da “imaginação criativa da comunidade” defendida pela crítica da forma pode explicar satisfatoriamente como um camponês judeu, com idéias e estilo de vida de um filósofo cínico, praticando o curandeirismo entre o povo simples, cheio de idéias gnósticas, acabou por ser transformado no Cristo que temos nos Evangelhos em tão curto espaço de tempo, e ainda com as testemunhas oculares dos eventos ainda vivas.

Fonte: [ O Tempora, O Mores! ]
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